São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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CHEGA DE BLABLABLÁ

Os chanceleres do chamado Grupo do Rio, composto por 14 nações da América Latina e do Caribe, Brasil incluído, chegaram à conclusão de que a pobreza é o maior problema dos seus países.
Está longe, mas muito longe, de ser uma grande novidade. É claro que diagnosticar problemas comuns é sempre uma tarefa importante para os governantes de turno.
Mas torna-se absurdamente irrelevante quando um documento por eles assinado contém platitudes como reafirmar "a disposição dos países-membros de superar a pobreza, a desnutrição, a marginalidade, a falta de acesso à saúde e o analfabetismo". É o que consta do texto final da reunião de cúpula do Grupo do Rio, realizada em Cochabamba (Bolívia).
Para chegar a esse tipo de declaração, os mandatários nem precisariam reunir-se diretamente. Em 30 segundos de conversa telefônica, teriam combinado parágrafos do gênero e economizado tempo e dinheiro dos contribuintes.
Como é óbvio, governante algum vai se opor à manifestações de boas intenções como a citada. Nem é um mal em si que as reafirmem, cada vez que se reúnem.
O problema é que as boas intenções não vão além do papel. Tanto que governantes, em especial os latino-americanos, sentem-se permanentemente compelidos a repeti-las nos caudalosos documentos que emitem quando se encontram.
A repetição acaba cansando e, de alguma maneira, retirando dramaticidade da situação que retrata.
Diagnósticos sobre a miséria latino-americana já existem em abundância. Está mais do que na hora de os seus governantes tratarem de passar das intenções às realizações e de definirem um cronograma para reduzir, paulatinamente, os dramas que diagnosticam.
A credibilidade das instituições agradeceria um pouco mais de ação e um pouco menos de retórica.

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