São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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A última do Serjão

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Alguém precisa avisar urgentemente o ministro Sérgio Motta (Comunicações) de que apoteose mental tem limites.
Seu mais recente ataque ao ex-presidente Itamar Franco beira o grotesco: "O Itamar nem foi presidente. Ele foi vice do Collor".
Fosse eu Itamar, responderia de bate-pronto: "Se eu nem presidente fui, o Fernando Henrique nem ministro foi".
Afinal, FHC só se tornou ministro, primeiro de Relações Exteriores e, depois, da Fazenda, porque o presidente chamava-se Itamar Franco.
Claro que sempre se pode especular que FHC acabaria sendo ministro de qualquer jeito, de tanto que Collor o namorou (e ele quase, quase, se deixou seduzir).
Mas o fato é que Collor caiu antes que pudesse convidar FHC.
Que Itamar foi vice de Collor, nem é preciso relembrar. Que candidato a vice não leva um único voto sequer (nem consta da cédula, aliás), também.
Agora, atacar Itamar por esse lado é reescrever a história da campanha pelo impeachment de Collor. Ninguém dos que nela mergulharam ignorava que Itamar era o vice de Collor e que a Constituição impõe que o vice assuma o lugar do titular em circunstâncias como a do impeachment.
Não me lembro de Sérgio Motta ter dito algo contra Itamar à época, talvez por saber que FHC era um dos íntimos do então vice-presidente, funcionou como seu conselheiro e, por extensão, era candidatíssimo a um lugar no Ministério.
Nem me lembro de Serjão ter aconselhado seu amigo FHC a recusar o convite para ser titular da Fazenda, usando o argumento de que Itamar "nem é presidente, é vice do Collor".
Ao contrário, esfregou as mãos de satisfação com o convite. Ingratidão não é uma qualidade apreciável em homens públicos, mas, como sobra nesse universo, acaba ficando impune. Já o ridículo de frases como essa...

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