São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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Marco Maciel abre o jogo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL), revelou publicamente, no domingo, um detalhe importante da articulação da reeleição: perderá os cargos no governo o partido que não apoiar a emenda constitucional que trata do tema.
Nada que não se pudesse inferir, dirão. Mas, vindo de quem veio, o sempre comedido vice, é sinal de que as ameaças estão correndo soltas.
Maciel falou depois de uma pouco concorrida cerimônia de abertura da Semana da Pátria. Apoiou pela primeira vez em público a emenda da reeleição e delineou a estratégia.
Para comentar a resistência à reeleição por parte do PPB, partido do prefeito paulistano, Paulo Maluf, o vice usou sarcasmo e didatismo:
"O PPB é um dos partidos que integra a base governamental. O PPB está, inclusive, presente no ministério e em altas funções da administração federal. E, consequentemente, como essas questões (reforma política e reeleição) todas estão sendo discutidas prévia e articuladamente dentro do próprio sistema de apoio ao governo, tenho a impressão de que precisamos conversar". A declaração de Marco Maciel é riquíssima em mensagens.
Primeiro, assume que a reeleição para FHC está sendo discutida "prévia e articuladamente dentro do próprio sistema de apoio do governo", o que, evidentemente, inclui o governo. Algo bem diferente do que diz FHC.
Mais importante, porém, é a insinuação sobre como será a farra de cargos e troca de favores na hora de votar a emenda da reeleição.
Quando diz que o PPB está no ministério e "em altas funções da administração federal", Maciel evidencia que isso tem de se traduzir em apoio no Congresso.
Em resumo: ou o PPB se enquadra ou sai do governo. O vice joga com a hipótese de que os pepebistas abandonarão o barco de Maluf em troca dos cargos para seus apadrinhados.
Se havia dúvida a respeito do festival de fisiologismo que será o espetáculo da reeleição, o discreto Maciel esclareceu de uma vez a questão.

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