São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996 |
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Prestígio de Menem despenca para 20%
CLÓVIS ROSSI
O número é do respeitado Centro de Estudos União para uma Nova Maioria, de tendência liberal, cujo diretor-executivo, o sociólogo Rosendo Fraga, foi assessor informal do ex-ministro da Economia Domingo Cavallo. Pior para Menem: sempre segundo Fraga, a maioria dos argentinos (58% exatamente) não acredita que possa haver, neste ano, reativação da economia, contra apenas 22% de otimistas. Foi exatamente o mau desempenho da economia no ano passado e nos primeiros meses de 1996 que jogou para baixo o prestígio de Menem, além de ter contribuído para a saída de Cavallo, o autor do plano que domou a inflação. Tanto é assim que Rodolfo Terragno, presidente do principal partido de oposição, a União Cívica Radical, diz que não foi Menem quem demitiu Cavallo. "Ele foi demitido pela recessão, pelo desemprego e pelo déficit fiscal", acha Terragno. Reforça o cientista político Hugo Haime: "Não apenas a imagem do ministro Cavallo estava deteriorada, mas também alguns valores do plano", em consequência, principalmente, do desemprego. A frase de Haime é um tímido retrato da realidade. O próprio coração do plano (a paridade cambial fixa, em que US$ 1 vale 1 peso desde abril de 1991) sofreu uma deterioração impensável há um ano. Quando Menem se reelegeu, em maio de 1995, nenhum dos seus adversários na disputa presidencial ousava discutir a paridade fixa. Agora, aumentam as vozes que pedem revisão do câmbio e sobe, também, o volume delas. O mais vigoroso crítico é Eduardo Curia, que foi secretário de Coordenação Econômica no início da primeira gestão Menem. Ele vem defendendo uma "saída ordenada" da paridade fixa, porque, como está, "o plano é irrecuperável". Mais recentemente, na esteira da saída de Cavallo, Rogélio Frigério, líder do desenvolvimentismo argentino, adotou linha parecida, mudando apenas a adjetivação: a paridade rígida está "esgotada". Ruim com, pior sem A substituição de Cavallo pode ter eliminado uma espécie de dualidade de poder entre o presidente e seu todo-poderoso ministro, à época já fortemente desgastado perante a opinião pública. Mas não contribuiu nem remotamente para que Menem recuperasse o prestígio que lhe permitiu reeleger-se. Tanto é assim que, em maio, na pesquisa imediatamente anterior à demissão de Cavallo, 25% dos argentinos tinham imagem positiva do presidente, porcentagem agora reduzida a 20%. "Está claro que a mudança de Cavallo por Fernández não mudou o humor da opinião pública", diz Rosendo Fraga. É natural, nesse cenário, que a usina de boatos, sempre ativa, tenha passado a funcionar mais fortemente. A lista de especulações vai das mais simplórias (como a volta de Cavallo, a chamado de Menem) até as mais espetaculares (como a da renúncia de Menem ao estilo da tentativa feita no Brasil, faz 35 anos, pelo então presidente Jânio Quadros). Jânio usou a renúncia como tentativa de extrair do Congresso plenos poderes, mas fracassou. Menem, por essa especulação, tentaria a mesma coisa. É um rumor estimulado pelo fato de que o pacote fiscal anunciado por Fernández empacou no Congresso. Texto Anterior: Sanguinetti faz reunião antiliberal Próximo Texto: Presidente discursa e insinua conspiração das oposições Índice |
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