São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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'Morte ao Vivo' questiona violência da imagem

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os meios de comunicação de massa devem mostrar aquilo que o público quer ver?
Em torno dessa questão o diretor espanhol Alejandro Amenábar, de 24 anos, realizou seu perturbador filme de estréia, "Morte ao Vivo".
Estrelado por Ana Torrent, que há 20 anos assombrou o mundo como a estrela mirim de "Cria Cuervos", o filme de Amenábar é um surpreendente "thriller" sobre a violência e o olhar.
O ponto de partida é uma tese que a estudante Angela (Ana Torrent) prepara, a respeito da violência nos meios de comunicação.
No decorrer da pesquisa, ela topa acidentalmente com um "snuff movie" (filme em que pessoas são mortas de fato diante das câmeras).
Com a ajuda de um colega tarado por fitas pornô, ela parte para a investigação do crime.
No meio do caminho, entra em cena um rapaz que parece ter a ver com os tais "snuff movies".
Bonitão, o suspeito desperta em Angela sentimentos tão ambíguos quanto os que ela experimenta diante das imagens mais brutais a que assiste.
O filme se desenvolve segundo esse duplo mecanismo: o desvendamento dos crimes e, paralelamente, das perversões mais secretas dos personagens.
Ninguém é inocente. Quem se compraz com as imagens da violência demonstra os mesmos impulsos primários de quem a pratica e de quem a exibe.
Nem por isso o filme responde com um sim à pergunta lá do alto.
Oferecer acriticamente ao espectador tudo o que ele quer ver é reforçar seus condicionamentos mais obtusos.
Isso é o que parece dizer "Morte ao Vivo", dando indiretamente uma alfinetada nos cultores da sangueira gratuita de certo cinema americano atual.
Pena que, em certos momentos, o diretor se entregue, ele também, aos prazeres e facilidades de uma certa fórmula de suspense -que consiste em multiplicar sustos e reviravoltas para adiar, artificialmente, a descoberta da identidade do criminoso.
Mas é um deslize do qual o filme se recupera a tempo. O que prevalece, ao fim de tudo, é a segurança narrativa (espantosa, para um estreante), além da impecável direção de atores.
Ana Torrent, em particular, mostra que, nesses anos todos de ausência, lapidou seu imenso talento dramático. Aos dez anos era uma menina prodígio. Aos 30, é uma grande atriz.
Filme: Morte ao Vivo (Tesis)
Produção: Espanha, 1996
Direção: Alejandro Amenábar
Elenco: Ana Torrent, Fele Martínez, Eduardo Noriega, Nieves Herranz, Rosa Campillo, Miguel Picazo, Javier Elorriaga Fotografia: Hans Burmann Música: Mariano Marin e Alejandro Amenábar
Onde: Espaço Unibanco de Cinema, sala 1, às 15h, 17h15, 19h30 e 21h45

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