São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Barbárie ronda "América"
INÁCIO ARAUJO
A primeira é tratar da Albânia -país balcânico que saiu do comunismo nos anos 90 com uma mão na frente e outra atrás. A segunda é a crença incondicional de seu diretor, Gianni Amelio, naquilo que conta e na possibilidade de transferir sua crença ao espectador. Amelio trabalha como se estivesse nos anos 50, para o público desconfiado do fim do século. A terceira é Amelio optar por um tempo narrativo lento, num momento em que o cinema de entretenimento se impõe. Em resumo, "América" é um filme inatual. Esse problema é compensado em parte pela sua solidez. E essa é inegável na história dos italianos que vão introduzir a Albânia no capitalismo. Por capitalismo entenda-se, no caso, trambique. Para tanto, um velho louco é transformado em presidente (isto é, testa-de-ferro) de uma empresa criada para não funcionar. Um jovem yuppie, Gino, fica encarregado de pajear o velho, o que não se mostra uma tarefa fácil. Até porque, logo se descobre, o velho é um italiano que desertou do exército de Mussollini e depois tornou-se prisioneiro na era comunista. A partir desses dados, "América" arma seu tabuleiro. Existe uma superposição de tempos: 1940 e 1990. Existe também uma superposição de situações: o velho louco que sonha em emigrar para a América, ao mesmo tempo em que os albaneses, enlouquecidos, sonham em emigrar para a Itália (pois a Itália está para a Albânia como a América para a Itália do início do século). Quando a idéia se completa, o espectador está pronto para apreciar as notáveis cenas finais. Depois, terminada a sessão, pode relembrar com mais vagar as atrozes imagens da Albânia (não tão diferentes, embora mais caóticas, das da Alemanha do pós-guerra, por exemplo). No mais, "América" é um filme pessimista. Observa fascismo, comunismo, capitalismo como faces de uma humanidade que -com tristeza, sem pânico- acredita avançar para a barbárie. Filme: América - O Sonho de Chegar Produção: Itália, 1995, 125 min. Direção: Gianni Amelio Com: Enrico Lo Verso, Michele Placido Quando: a partir de hoje no cine Vitrine Texto Anterior: 'Morte ao Vivo' questiona violência da imagem Próximo Texto: MuBE analisa fotografia contemporânea Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |