São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
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Pont já dá como certa a vitória do PT

CARLOS ALBERTO DE SOUZA

CARLOS ALBERTO DE SOUZA; LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Para o candidato, alternância de tendências ajudou o partido na cidade

LÉO GERCHMANN
O candidato do PT à Prefeitura de Porto Alegre (RS), Raul Pont, 52, já fala como vitorioso no primeiro turno. Em entrevista de cerca de uma hora à Agência Folha na quarta-feira, em nenhum momento usou o condicional para se referir à sua possível futura administração, que seria a terceira consecutiva do PT na capital gaúcha.
"Eu e o Fortunati (José Fortunati, candidato a vice) vamos entrar no dia 1º de janeiro com todo orçamento comprometido. A população já decidiu quais são as obras", disse Pont.
A mais recente pesquisa Datafolha indica a vitória do candidato petista no primeiro turno, com 55% das intenções de voto.
Pont, que milita na Democracia Socialista, grupo de orientação trotskista, disse que a alternância de tendências do PT nas administrações de Porto Alegre tem garantido a força do partido, diferentemente de outros locais do país.
"Nenhuma tendência foi excluída. Infelizmente, isso não ocorre em São Paulo. Em Diadema, é uma tragédia, o partido virou uma guerra civil."
Pont não poupou críticas ao prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PPB), e ao governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PMDB). A seguir, trechos da entrevista.
*
Agência Folha - Tomando por base as pesquisas e as manifestações de rua, o sr. acha que o PT vai ganhar no primeiro turno?
Raul Pont - Acho que sim. Tenho certeza de que não perdemos os nossos 48%, 49% do primeiro turno anterior (1992) e ainda recebemos migração de votos de PDT, PMDB e PSB.
Agência Folha - O atual quadro eleitoral mostra uma consolidação do PT em Porto Alegre, projetando outras futuras gestões?
Pont - Acho que sim. Construímos uma teia de relações com a comunidade. Temos um apoio muito forte nas áreas sociais. Vamos fazer força, continuar trabalhando para ficar muito tempo.
Nós já estamos há 12 (anos, dando como certo o terceiro mandato petista).
Bolonha, na Itália, está na mão do PCI (Partido Comunista Italiano), agora PDS (Partido Democrático de Esquerda), há 50 anos.
Seguidamente, nos comparam com Bolonha. Lá, houve um certo processo de acomodamento. Aqui, temos de brigar para dominar o Estado, conquistar o país.
Agência Folha - Tarso Genro, segundo as pesquisas, está fazendo seu sucessor, em Porto Alegre. O mesmo ocorre com Paulo Maluf (PPB), em São Paulo. As situações se assemelham?
Pont - É o dia e a noite. Tudo que se faz aqui é fruto de uma participação direta da comunidade, as pessoas estão construindo junto conosco o seu governo.
O Maluf, na melhor das hipóteses, é um déspota esclarecido. Entre aspas, é um rei bondoso e autoritário. Mas vá ver as condições de vida em São Paulo.
Proporcionalmente, fizemos aqui mais habitação popular do que ele. O Cingapura não ultrapassou 3.000 residências, para uma população de 10 milhões. Nós, só em duas remoções de vilas, foram 600 casas.
Agência Folha - Se eleito, como será seu relação com o governador Antônio Britto (PMDB)?
Pont - Vai continuar tensa. O Estado está vivendo uma crise e metade de nossa receita vem do Estado.
O Britto é um desastre, a arrecadação cai muito, o que revela a incompetência, a desorganização. Responsabilizamos o governo pela sonegação, pela renúncia fiscal, por aceitar a desoneração das exportações, que dará ao Estado um prejuízo de quase meio bilhão nos próximos anos. Ele só consegue pensar em montadora japonesa e montadora espanhola. As nossas cooperativas, por exemplo, estão atiradas às traças.
Agência Folha - Uma terceira vitória do PT em Porto Alegre torna a capital gaúcha uma referência para a esquerda brasileira. Como o sr. avalia essa responsabilidade?
Pont - Temos muita consciência desse papel, mas nunca dissemos que somos um farol da esquerda ou da humanidade. Temos sido muito cautelosos, não temos política de endividamento na prefeitura. Nossos maiores empréstimos estão programados, com comprometimento de, no máximo, 2%, 2,5% da receita nos próximos decênios.
Não estamos encalacrando como o Maluf. O cara agora está fazendo tudo para ganhar a eleição e se cacifar para a Presidência da República. Quem vai pagar a conta?
Agência Folha - A alternância de tendências do PT nas administrações de Porto Alegre é boa para o partido?
Pont - É muito positiva, aqui temos uma situação diferente da do resto do Brasil. Construímos desde o início uma legitimidade muito grande da direção partidária. A administração respeita isso, assim como o partido respeita a autonomia administrativa.
Esse é o grande acerto que temos em Porto Alegre. Nenhuma tendência foi excluída. Infelizmente, isso não ocorre em São Paulo. Em Diadema, é uma tragédia, o partido virou uma guerra civil.
Agência Folha - Na sua opinião quem deve ser o próximo candidato do PT à Presidência da República, ainda deve ser o Lula?
Pont - Temos outros nomes além do Lula, que paga o preço do preconceito em relação ao seu nome. Temos o (Aloizio) Mercadante -eu defendi o nome dele para a Prefeitura de São Paulo.
O Tarso (Genro) já foi citado pela imprensa. O (Eduardo) Suplicy já teria menos trânsito. O (José) Genoino teria dificuldade na convenção. Mas hoje o nome mais consolidado ainda é o do Lula.

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