São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
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Menem terá de ceder, diz Broda

Fim de mandato será tenso

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O economista argentino Miguel Angel Broda afirmou ontem que a economia do seu país entra agora num ciclo eminentemente político, e que tanto a percepção de risco sistêmico quanto o desempenho econômico não repetirão o clima favorável do início dos anos 90.
A nova equipe econômica, segundo Broda, é talvez a mais competente que já se viu, integrada por economistas filiados à chamada escola de Chicago, monetarista. Mas a ortodoxia será compensada pela necessidade de buscar mais consensos na fase final do segundo mandato do presidente Menem.
Broda chegou a ironizar, em seminário realizado ontem em São Paulo, o debate brasileiro sobre reeleição, alertando para as dificuldades de um mandato longo demais e desgastante no caso argentino (o primeiro de Menem durou seis anos). "No Brasil, pelo menos é de apenas quatro anos."
O terço final do governo Menem será dominado pelas pressões crescentes do Partido Justicialista e pela própria sucessão presidencial. As dificuldades para a aprovação do ajuste fiscal já mostram como a nova equipe tem idéias rígidas, mas na prática vai ter de ceder.
Broda recomendou extremo ceticismo quanto à possibilidade de os organismos multilaterais socorrerem a Argentina numa situação de crise semelhante à mexicana. Hoje o endividamento argentino é sobretudo com credores privados no mercado voluntário.
O economista argentino alertou também para a importância do novo esquema de defesa contra risco sistêmico adotado pelo governo argentino. No esquema, 16 bancos internacionais colocam à disposição do governo até US$ 7 bilhões que podem ou não ser sacados. Sob qualquer hipótese, o governo paga uma comissão aos bancos (projetada em cerca de US$ 20 milhões por ano, no mínimo).
Broda atribui chance de 5% a uma quebra da convertibilidade entre peso e dólar nos próximos seis meses e 15% nos próximos 18 meses. Parece pouco, mas até Cavallo podia-se dizer que era zero. Desde sua saída migrou US$ 1,4 bilhão de depósitos em pesos para depósitos em dólar, mas ainda dentro do sistema argentino.
Broda situa o limiar além do qual haveria de fato uma fuga de capitais em US$ 8 bilhões ou US$ 9 bilhões ou cerca de metade do atual estoque de reservas da Argentina. O esquema de apoio junto aos bancos estrangeiros ajudaria a evitar a ruptura mesmo sem apoio de organismos internacionais ou governos estrangeiros.
O futuro da economia argentina, em sua opinião, depende do crescimento da economia brasileira, da liquidez nos mercados financeiros globais e da evolução dos preços internacionais de "commodities" agrícolas. Mas Broda coloca esperanças no Mercosul, e sonha com esquemas de integração monetária e apoio brasileiro ao sistema financeiro e cambial argentino.

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