São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Zerar inflação já é desafio nas negociações salariais

Até o primeiro semestre de 96 maioria teve pelo menos o INPC

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A manutenção do poder de compra entre assalariados na fase mais complicada do real, a partir de meados de 95, conforme mostra a pesquisa Seade-Dieese, pode ter duas explicações: 1) reposição de pelo menos a inflação na data-base anual; e 2) demissões de pessoal com salários mais baixos, o que tende a elevar a renda média.
Wilson Amorim, coordenador de linhas setoriais do Dieese, informa que 53% dos acordos acompanhados pelo órgão no primeiro semestre de 96 ainda resultaram em reajuste pelo INPC mais "alguma coisa" de aumento real.
Em junho passado, embora sem categorias de peso com data-base naquele mês, o reajuste salarial ficou abaixo do INPC em 25% dos acordos e houve empate em 75% deles. Ninguém conseguiu aumento real. Amorim lembra que "1% ou 2% na folha são mais visíveis na contabilidade das empresas com inflação baixa".
Mas o que se observa, diz ele, é uma dificuldade cada vez maior nas negociações salariais, embora a situação varie de setor para setor.
O grande teste, explica Amorim, será neste segundo semestre, quando categorias de peso, como petroleiros, bancários e químicos, estão tendo sua data-base.
O quadro, segundo ele, ainda está indefinido, mas a tendência é de um endurecimento maior na área pública. A Petrobrás, por exemplo, oferece reajuste de 8,8%.
No setor privado, diz ele, outras questões, fora o salário em si, estão sendo colocadas. É o caso do emprego, com propostas de redução da jornada de trabalho. Na indústria, pesa também o problema da abertura dos mercados.
Amorim afirma que vêm ocorrendo avanços na área de participação nos lucros e nos resultados das empresas, embora elas tentem sempre deixar de fora das negociações os sindicatos.
Isto é uma tentativa, na opinião de Amorim, de a empresa se aproximar do empregado e neutralizar a ação sindical.
Mesmo assim, diz ele, este processo tem avançado. De julho de 95 a março de 96 o Dieese registrou 448 acordos de participação nos lucros e resultados.
Desses acordos, em geral acertados fora da data-base, na indústria e por empresa, 7% resultaram de pressões via greve, percentual que Amorim não julga desprezível.
As negociações neste sentido ainda não têm muito critério técnico. Quase sempre os resultados concretos são um abono para trabalhadores com salário até R$ 500. Mas, segundo o coordenador do Dieese, negociações mais recentes mostram tendência, nas grandes empresas, de formação de quadros técnicos para lidar com este fato novo nas relações trabalhistas.

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