São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Emenda causa guerra de egos entre os aliados

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A possibilidade de conquistar o direito de reeleição para o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) abriu uma disputa interna entre os aliados do governo.
Todos querem ocupar o posto de pai da idéia. A guerra de egos acendeu uma "fogueira das vaidades", com cada aliado tentando divulgar qual seria a melhor estratégia.
Há divergência sobre quase tudo, segundo a Folha apurou, e são três as disputas principais:
1) o momento mais conveniente para instalar a comissão que vai analisar, na Câmara, a emenda constitucional da reeleição;
2) a escolha da melhor data para tentar colocar a emenda em votação no plenário da Câmara;
3) se a emenda da reeleição deve ou não ser reapresentada junto com uma reforma política completa, que inclua, entre outras modificações, o voto distrital e proporcional misto e a fidelidade partidária para os políticos.
FHC
No meio desse tiroteio, o presidente da República decidiu continuar com sua postura reservada em público.
Dirá, para consumo externo, que é a favor da reeleição em tese, mas que a decisão está circunscrita ao Congresso.
PFL
O PFL é o agrupamento político governista mais atuante nas articulações da reeleição.
Partido de direita formado para apoiar o então candidato a presidente Tancredo Neves, em 85, o PFL se especializou em ajudar e sustentar governos.
Os pefelistas foram os primeiros a divulgar oficialmente, no mês passado, uma idéia antiga de instalar na Câmara a comissão especial da reeleição logo depois de 3 de outubro, data do primeiro turno das eleições municipais.
Essa atitude arrojada dos pefelistas melindrou o partido do presidente, o PSDB.
Os tucanos, como são conhecidos, sentiram-se deixados para trás num assunto que deveriam tomar a dianteira.
Os personagens da linha de frente do PFL foram o presidente licenciado do partido, Jorge Bornhausen, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), o líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), e o senador Antônio Carlos Magalhães (BA).
Resposta tucana
A resposta do PSDB veio na surrada sugestão de fazer uma ampla reforma política que incluísse a reeleição.
O senador Sérgio Machado (PSDB-CE) preside uma comissão de estudos sobre essa reforma política ampla.
Outras dezenas de emendas constitucionais sobre o assunto já tramitam no Congresso.
A tal reforma viria com a reeleição, voto distrital e proporcional misto, fidelidade partidária e cargo de senador vitalício para ex-presidentes da República.
Defendem essa idéia, além de Machado, o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), e o líder do governo no Congresso, senador José Roberto Arruda (PSDB-DF).
Bombardeio
A proposta tucana encontrou guarida junto a um dos caciques do PFL, o vice-presidente da República, Marco Maciel. Ele declarou apoio à idéia no início do mês.
Com isso, Maciel só conseguiu ser bombardeado junto com os tucanos que apareceram com a estratégia de reforma política.
Luís Eduardo Magalhães e seu pai, Antônio Carlos Magalhães, disseram que a reforma política ampla é desejável. Mas que atrapalharia a tramitação da emenda mais importante, a da reeleição.
Talvez por causa dessa disputa pela paternidade da estratégia, ontem alguns aliados estavam mais calados do que o normal.
"Só depois das eleições municipais poderemos decidir o que fazer", disse o ministro da Coordenação de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos (PMDB).
Ao lado de Santos, caminhando pelo Congresso, o líder do governo na Câmara, Benito Gama (PFL-BA), completou: "O governo não quer nada com reeleição. Isso é assunto do Congresso".

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