São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996 |
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Divisão da arquidiocese foi o momento mais difícil, diz Arns Vaticano impediu ação do cardeal nas áreas mais pobres LUIS HENRIQUE AMARAL
Em um golpe de caneta, d. Paulo perdeu 6,9 milhões -das 14,5 milhões de pessoas que estavam sob sua jurisdição- para bispos autônomos indicadas pelo papa. Das 395 paróquias, perdeu 146. A divisão ainda tirou de d. Paulo o controle sobre as áreas mais pobres e periféricas, justamente aquelas em que priorizava sua atuação. Para o padre Tarcísio Justino Loro, autor da tese de doutorado "Espaço e Poder na Igreja: A divisão da Arquidiocese de São Paulo", o Vaticano usou o Código Canônico (a lei da Igreja) para impedir o crescimento de uma nova experiência pastoral. Segundo Loro, Arns propôs ao Vaticano a divisão da arquidiocese em dioceses menores, mas com autonomia restrita. Elas continuariam a seguir as linhas gerais propostas pelo cardeal. O Vaticano preferiu criar novas dioceses autônomas, conforme determina o código. E ainda indicou para o cargo bispos do grupo conservador da igreja. Ao contrário de Arns, os novos bispos, como d. Fernando Legal, de São Miguel (zona leste), priorizam a dimensão espiritual e ritualística da religião, em detrimento da ação social e política. A tese de Loro foi defendida este ano na Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo, e obteve nota dez com louvor. Sigilo A pedido de Arns, o padre não havia divulgado o estudo. Estava esperando a aposentadoria do cardeal, que pode acontecer a qualquer momento a partir do próximo sábado. Para tentar evitar o desmembramento da arquidiocese, d. Paulo fez várias viagens ao Vaticano. Apesar da insistência, a Cúria romana preferiu enfraquecer o trabalho de um dos principais defensores da Teologia da Libertação. Para Loro, "a divisão da arquidiocese é um sinal do retorno à disciplina rígida e centralizadora" do Vaticano, que tinha como objetivo "frear a igreja marcada pela comunhão e participação". Manifestações A divisão provocou forte repercussão na igreja de São Paulo. Aconteceram manifestações, que receberam o aval de d. Paulo. "Para toda a igreja de São Paulo, o momento mais difícil foi a divisão da arquidiocese em termos diferentes do que vinha sendo preparado durante o pontificado de Paulo 6º", diz o cardeal arcebispo. Texto Anterior: D. Paulo, 75 anos Próximo Texto: Substituto deve sair do grupo conservador Índice |
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