São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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O preto no branco

JANIO DE FREITAS

De grão em grão, embora os intervalos de um grão a outro, a chamada grande imprensa se aproxima de sua função jornalística. Exceto só o "Jornal do Brasil", nenhum dos outros jornais que a compõem deixou de registrar, alguns com clareza e já no título da notícia, que Fernando Henrique Cardoso foi mesmo dar "ajuda a Serra", como titulou em primeira página o próprio "O Estado de S.Paulo", com a festa de falsa retomada das obras já retomadas do metrô paulistano.
A quase unânime fidelidade ao caráter do fato não advém da semelhança das respectivas notícias, que é ocorrência forçosamente diária em relação a numerosos temas. O avanço se evidencia ao se levar em conta o grau de independência implícito na publicação, por uma imprensa explicitamente fernandista, de um propósito que Fernando Henrique queria ver omitido.
O avanço não é estável, mas sujeito a recuos que tanto podem ser ocasionais, a exemplo dos avanços mesmos, como irreversíveis. Momentâneo embora, nem por isso deixa de ser a importante demonstração de que a imprensa tem consciência das circunstâncias e circunstantes, não se devendo a ilusões suas o ilusionismo que os jornalistas pratiquem.
Se parecer insignificante o avanço citado, comparem-se os jornais impressos com a missão a que a TV se entregou, de extensão em horário integral das conveniências eleitorais de Fernando Henrique e de Sérgio Motta. Se alguém tivesse um olho na telinha e outro na lei, o comício eletrônico exigido pelo próprio ministro das Comunicações já teria resultado em algo que nos faria um pouco mais respeitosos com o Judiciário e com o país mesmo.
O acompanhamento que o jornalista Nelson de Sá está fazendo, em sua coluna na Folha, do uso indevido da TV, tanto por iniciativa do governo como do próprio pessoal das emissoras, já expôs matéria-prima mais do que suficiente para se concluir que estas eleições, mesmo sem considerar as tramóias pesquisóides e demais tramóias, não são ato democrático: são ato criminal.
Se eleição de prefeito já leva aos envolvimentos que se vê, não é estranhável que até "The New York Times" dedique um editorial, como fez no fim-de-semana, à percepção de que o empenho de Fernando Henrique e outros presidentes latino-americanos por suas reeleições, além de comprometer o desempenho dos governos, compromete também a necessária consolidação da democracia nos respectivos países.
Flexibilidade
A pesquisa divulgada pelo Vox Populi em 3 de setembro deu um bafafá daqueles. Nem podia ser de outro modo. Em apenas três dias, o Vox Populi atribuía a Serra o pulo de 7% para 14%, ou 100% de crescimento em três dias.
Muito ataque à empresa? Calma, já não há motivo para isso: o Vox Populi divulgado ontem concluiu que, outra vez em apenas três dias, Serra caiu de 14% para 10%.
Espera-se para hoje a pesquisa do Vox Populi referente ao Rio, mostrando que também entre os cariocas a velocidade é tanto para cima quanto para baixo. E então ninguém continuará dizendo que as subidas dos peessedebistas de São Paulo e Rio foram obra, não da reserva de insultos, mas de outra reserva de Sérgio Motta.

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