São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Com salário menor, jovens ocupam vagas

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A tendência do mercado formal de trabalho no Brasil desde o Plano Real é abrir vagas para trabalhadores mais jovens e com praticamente a mesma escolaridade que seus antecessores. Mas o salário oferecido é menor.
Nos setores que tradicionalmente remuneram melhor seus empregados, como a indústria, se verifica a maior diferença no valor do salário pago aos novos contratados em relação aos que deixaram o emprego. Ela chega a 27% no caso dos homens.
Por outro lado, foram as profissões menos qualificadas que abriram mais vagas desde meados de 1994. Os trabalhadores braçais não-classificados foram os que tiveram mais novas oportunidades de emprego: 152 mil. Mas por um salário médio de R$ 237,00.
Já aquelas profissões que exigem diploma universitário e os cargos intermediários de chefia sofreram mais desde a edição do real. Na maioria das vezes houve redução do número de vagas.
São os casos, por exemplo, dos economistas (corte de 7 mil vagas), engenheiros e arquitetos (perderam 3,9 mil empregos) e dos gerentes de empresas (32 mil vagas a menos).
Os trabalhadores de setores muito atingidos pela competição de produtos importados também perderam oportunidades.
Metalúrgicos especialistas em usinagem de metais (menos 33 mil vagas), trabalhadores na fabricação de calçados (21,6 mil empregos a menos) e fiandeiros e tecelões da indústria têxtil (37 mil vagas cortadas) são alguns dos mais atingidos.
Salário médio
O resultado dessa metamorfose do mercado de trabalho formal foi uma diminuição dos salários médios dos novos contratados.
As 15 profissões ou funções que tiveram mais postos de trabalho abertos rendem, segundo a média dos salários dos admitidos e demitidos, R$ 302,08 por mês.
Seguindo-se o mesmo critério de cálculo, o rendimento médio proporcionado pelas 15 profissões ou funções nas quais mais cortes houve é de R$ 548,66 mensais.
Esse dados foram obtidos pela comparação do perfil dos trabalhadores demitidos com o dos admitidos desde junho de 1994 -traçados pela Folha a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho.
No caso dos homens, os admitidos são em média 1,6 ano mais novos do que os demitidos, foram contratados por um salário 18% menor do que o recebido pelos que deixaram os cargos e têm 6 anos de estudo, contra 6,1 anos dos antecessores.
Para as mulheres, aumenta a diferença de idade -as novas contratadas são 1,8 anos mais novas-, mas diminui a distância entre os salários: 10% a menos para as novas funcionárias.
Escolaridade
Ao contrário dos homens, as mulheres admitidas têm uma escolaridade um pouco maior do que as demitidas.
O grau de escolarização é uma das grandes diferenças das mulheres em relação aos homens, ao menos no mercado formal de trabalho. Elas têm quase dois anos a mais de estudo do que os concorrentes masculinos.
Isso, entretanto, não adianta nada na hora de negociar o salário. As mulheres ganham em média 7% menos do que os homens quando entram no novo emprego: R$ 276,00 contra R$ 296,00.
O único setor onde isso não acontece é a construção civil.
O salário é praticamente igual, mas as mulheres têm 3,2 anos a mais de estudo do que seus colegas homens.

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