São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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IML detecta álcool em 95% dos corpos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os números aparecem em estudo inédito apresentado na semana passada no 10º Congresso Mundial de Psiquiatria realizado em Madri (Espanha).
Durante mais de um ano, pesquisadores analisaram 19.230 laudos cadavéricos feitos entre 1986 e 1993 no IML central de São Paulo. Em 18.263 corpos -95% do total- foi registrada a presença de álcool. Em 2.115 cadáveres -11% dos que tinham ingerido bebida-, havia álcool suficiente para levar à morte.
Se não tivessem morrido de tiro ou acidente de trânsito, essas pessoas morreriam pelo efeito do próprio álcool.
A pesquisa, ainda em detalhamento, não relacionou a causa da morte com os exames toxicológicos. Portanto, não significa que as pessoas que consumiram drogas morreram em função delas.
"Os números são assustadores", disse Elisaldo Carlini, secretário nacional da Vigilância Sanitária e diretor do Cebrid, centro de estudos de drogas da Universidade Federal da São Paulo (Unifesp).
A presença cocaína -cheirada ou fumada em forma de crack- só foi encontrada em 407 dos corpos (cerca de 2,12%). Traços de medicamentos psicotrópicos foram detectada em 390 cadáveres, cerca de 2,05% do total de mortos.
O trabalho foi coordenado pelos pesquisadores Solange Nappo e José Carlos Galduroz, os dois do Cebrid e do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.
Pelo IML passam os corpos das vítimas de mortes violentas ou tidas como não naturais. O instituto também analisa as drogas encontradas com pessoas detidas ou mortas. A pesquisa do Cebrid também estudou essas substâncias em mais de 120 mil laudos.
No estudo, que ficará pronto em um mês, a cocaína aparece como principal droga apreendida. Em segundo está a maconha, seguida de medicamentos e inalantes.
Segundo a pesquisa, cerca de 96% das vítimas com álcool no sangue eram homens. Eles também eram a grande maioria entre os que tinham cocaína no organismo. Segundo Carlini, essa proporção também vale para os inalantes, como cola e benzina. Mas no caso de psicotrópicos, cerca de 60% das vítimas eram mulheres.
Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é a de que muitas das mulheres que ingeriram medicamentos psicotrópicos tinham a intenção de se matar. Os homens, ao contrário, usam o álcool e outras drogas ilícitas supostamente para se divertirem.

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