São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Crack mata rápido e de forma violenta

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O crack é a droga que mata mais rapidamente e da forma mais violenta. A vítima, na grande maioria dos casos, é o próprio usuário.
Em dois anos de estudo, morreram 13 dos 103 dependentes acompanhados -sete assassinados, cinco por Aids e um por overdose.
Os dados aparecem em pesquisa realizada pela Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo). Os pesquisadores ouviram 103 dependentes de crack internados em 1993 no Hospital de Taipas, zona norte de São Paulo. Dois anos depois, os usuários foram novamente procurados.
Entre os 90 que estavam vivos, nove tinham sido presos, dois tinham desaparecido, 50 continuavam usando e 29 tinham deixado a droga.
Os 13 mortos no período significam uma mortalidade de 6,5% ao ano. "A literatura médica nunca registrou uma mortalidade tão alta", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do Uniad.
A mortalidade entre dependentes de heroína, por exemplo, é de 1% ao ano.
Se o índice da pesquisa (6,5%) fosse aplicado a uma suposta população de 20 mil usuários de crack em São Paulo significaria que 1.200 deles estariam morrendo a cada ano. No entanto, não há dados oficiais nem sobre os dependentes de crack, nem sobre as mortes ocorridas em função da droga. O Denarc, da Secretaria da Segurança Pública, estima em 120 mil os dependentes dessa droga.
Segundo Laranjeira, o álcool mata mais e provoca um custo social muito maior porque seu uso é generalizado. Estima-se que 15% da população adulta masculina seja dependente de álcool e que entre 80% e 90% dos homens bebam.
"Mas no crack a evolução é muito mais rápida e a grande maioria evolui para pior", diz o psiquiatra.
Na sua opinião, uma política de saúde pública voltada para a droga poderia reduzir a alta mortalidade do crack e recuperar um número maior de dependentes.
Laranjeiras observa que nenhum dos candidatos à Prefeitura de São Paulo fez propostas em relação à droga. "O crack está matando tanto quanto a meningite, e ninguém apresenta um programa de prevenção e tratamento", afirmou.
Caldo propício
Beatriz Carlini Cotrim, pesquisadora do Cebrid, diz que nem o Estado nem a sociedade estão respondendo à altura quando se trata de drogas ilícitas e álcool. "Não temos políticas públicas definidas para essas questões. No caso do álcool, por exemplo, não se trata de proibi-lo. Mas de estabelecer situações em que ele pode ser consumido. Nesse ponto, ainda estamos na pré-história."
No caso do crack, Beatriz diz que "a violência está mais ligada à ilegalidade da droga" que obriga o usuário a mergulhar em um submundo para adquiri-la.
"Como se trata de uma droga que cria dependência rapidamente, as pessoas não medem esforço para consegui-la."
Segundo ela, o desemprego e a falta de opções criam um "caldo propício" para o aumento do número de pessoas que usam drogas.
"A violência do álcool, que já é endêmica na sociedade, está se associando à epidemia do crack. O crack assusta mais, porém é uma epidemia localizada. O álcool atinge todas as classes sociais."

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