São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Cresce venda de calmantes

Foram consumidos 35 milhões de caixas no país em 95

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo de tranquilizantes cresceu cerca de 19,04% no país entre 94 e 95. A informação é da Associação Brasileira de Farmácias (Abifarma). Em 94, foram vendidas 29,4 milhões de caixas. O número subiu para 35 milhões de caixas no ano passado.
As causas para o aumento são várias, mas nenhuma é conclusiva. Uma das hipóteses é que a maior parte dos tranquilizantes é receitada por clínicos-gerais, que poderiam estar receitando remédios inadequadamente.
Outra hipótese é que existam farmácias vendendo o produto sem receita. Tranquilizantes são medicamentos controlados. A receita, azul, é especial e fica retida na farmácia. O aumento também não determina se há novos usuários ou se os antigos aumentaram a dose do medicamento.
"O aumento é preocupante. É possível que esteja havendo prescrição errada ou desnecessária. Por isso, cursos sobre distúrbios psiquiátricos são necessários para clínicos", diz Antonio Egidio Nardi, professor da UFRJ.
"Às vezes, o médico não tem tempo de atender o paciente adequadamente. Se ele se queixa, por exemplo, de insônia, ele recebe um calmante. Na verdade, a insônia pode até ser sintoma de depressão. Ele estaria recebendo a receita inadequada", diz Valentim Gentil Filho, 58, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
"O aumento não me surpreende. Existe medicação exagerada no Brasil e não há tradição de supervisão desses medicamentos", diz Elisaldo Carlini, secretário nacional da Vigilância Sanitária.
Carlini diz que repassou verbas para iniciar um programa de controle na venda dos tranquilizantes no Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Bahia, Santa Catarina e Paraná. "Vamos equipar os fiscais com computadores e treiná-los para controlar receituários", diz.
"Estima-se que o consumo de tranquilizantes no mundo seja de 22 doses diárias por 1.000 habitantes. Mas essa cifra não corresponde à realidade brasileira", diz Solange Natto, 45, chefe nacional da divisão de medicamentos da Vigilância Sanitária.
"É preciso levar em conta quem pode comprar os medicamentos -um terço da população brasileira-, o que torna altíssimo o consumo de medicamentos."
Segundo Solange, o país está passando por um "chilique". "Esses remédios causam dependência e nem sempre são necessários."
Carlini diz que o uso de tranquilizantes é maior entre as mulheres. "Era comum ver folhetos com propagandas de tranquilizantes em consultórios, com mulheres felizes e bonitas ao lado de uma caixa de remédios. Isso é um absurdo."
Ele diz que não é possível afirmar que as farmácias realmente recolham as receitas e as enviem para a Vigilância Sanitária. "Acho provável que remédios sejam vendidos sem receita."

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