São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Arma mais álcool, ou droga, formam coquetel da morte

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma arma na cintura, um copo de aguardente na mão ou uma droga na cabeça. Está pronta a receita de mais uma morte.
A fórmula foi confirmada por uma pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP realizada para a Secretaria da Segurança Pública na zona sul de São Paulo.
Entre os ingredientes, o álcool aparece como agente detonador em pelo menos 41% dos homicídios. O tráfico de drogas foi responsável por 17 assassinatos, ou 11,7% do total.
Foram estudados 145 homicídios esclarecidos em 14 distritos policiais dos bairros mais violentos da zona sul, no ano passado.
"A pesquisa mostrou que a droga, especialmente o crack, é um dos fatores de aumento no número de mortes, mas não é o único", diz Guaracy Mingardi, que coordenou a pesquisa.
Segundo ele, o crack tem efeito semelhante ao da bebida, com uma agravante: enquanto o álcool em excesso "derruba" a pessoa, o crack, a cada dose, provoca um novo momento de excitação.
"O problema é que o número de pessoas que bebe em excesso é muito maior que o daqueles que usam crack", ressalva Mingardi.
Na gíria policial, o álcool provoca três momentos distintos batizados com o nome de bichos: a fase do macaco, quando a pessoa começa a beber e está alegre; a do leão, quando a bebida o deixa valente; e a do porco, quando passa mal ou dorme.
As brigas começam quando o "macaco" que chega no bar encontra a valentia do "leão".
Para Mingardi, o álcool ou a droga -ou a raiva ou o desejo de vingança- são fatores que alteram a consciência. Mas é a posse de uma arma que vai materializar o homicídio.
"A queda na apreensão de armas pela polícia é mais danosa que o crack ou qualquer outra droga", diz Mingardi.
Na região estudada, o bar aparece como o maior centro gerador de violência. Quase 8% das mortes acontecem ali mesmo. Outros 6% dos homicídios são causados diretamente pela bebida, sem outra razão.
E a grande maioria das brigas -por mulher, entre casais e outros motivos fúteis- tem a bebida como detonador. .
A pesquisa do Núcleo de Estudos se estendeu por 14 distritos policiais da zona sul da cidade. A região inclui o Jardim Ângela, considerado o de maior índice de homicídios na cidade.
Segundo Mingardi, o cemitério São Luis, no Parque Santo Antonio, abriga o maior número de vítimas de homicídio da capital.
Só naquela região foram cometidos 105 homicídios ou tentativas ao longo do ano passado.
(AB)

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