São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Aumenta na França a tensão social

Governo espera onda grevista

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

Para o governo francês o ano começa em setembro, após as férias parlamentares e do governo. É a "rentrée".
O presidente Jacques Chirac voltou das férias e encontrou os mesmos 3 milhões de desempregados que deixou quando partiu em viagem.
Apesar dos bilhões de francos gastos no combate ao desemprego, o governo francês não conseguiu reduzir a taxa de 12,5% (da população economicamente ativa) de desempregados.
Só com o programa de renda mínima daqui são gastos 24 bilhões de francos (cerca de R$ 4,8 bilhões).
A crise econômica do país gera uma tensão social que deve começar a estourar no fim do mês, início de outubro, no máximo. As principais centrais sindicais já anunciaram greves para as próximas semanas.
Uma pesquisa recente, publicada pelo "La Tribune Desfossés", revelou que 77% dos franceses acreditam que as greves serão tão intensas quanto as do ano passado, que praticamente paralisaram o país durante algumas semanas.
E 75% dos entrevistados estão pessimistas sobre o futuro da economia nos próximos seis meses.
A crise econômica provocou uma pequena deflação no índice de preços ao consumidor nos últimos três meses. Em agosto, ficou entre -0,2% e -0,3%.
Para tentar aumentar o consumo, o primeiro-ministro Alain Juppé anunciou há dez dias uma reforma fiscal que previa a redução de 25 bilhões de francos (R$ 5 bilhões) no Imposto de Renda.
Não é muito. Só no ano passado, os franceses pagaram 3,415 trilhões de francos (R$ 683 bilhões) de impostos.
A redução, contudo, foi compensada pelo aumento dos impostos locais. Resultado: para 85% dos franceses, a diminuição do IR não fará aumentar o consumo.
Mais problemas
No plano econômico o governo enfrenta outros problemas.
O déficit orçamentário em 1997 deve ficar em 278 bilhões de francos (cerca de R$ 55,6 bilhões), mesmo com crescimento zero das despesas públicas em relação ao ano passado. A redução do déficit em relação ao orçamento de 1996 foi de 10 bilhões de francos.
Para respeitar o tratado de Maastricht, que determina que os déficits públicos sejam inferiores a 3% do PIB no fim de 1997, o governo vai tomar medidas severas.
Deve demitir cerca de 7.000 funcionários e reduzir ajudas de alocação profissional e habitacional.
O objetivo é reduzir o déficit a cerca de 248 bilhões de francos (R$ 49,6 bilhões).
O rombo da previdência é outro abacaxi que custa 800 bilhões de francos (R$ 160 bilhões) por ano para o governo. O primeiro-ministro prometeu que o déficit em 1996 ficaria em 17 bilhões de francos (R$ 3,4 bilhões). Mas ele deve fechar em torno de R$ 12 bilhões.

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