São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996 |
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Ricos, crentes e famosos
WILLIAM SHAW
Nancy Cartwright, conhecida por todos como a voz de Bart Simpson, num vestido branco explosivo, cumprimenta os amigos com sua eterna voz de adolescente. A atriz Anne Archer sorri para as câmeras. O jazzista Chick Corea, ao lado de sua mãe e sua mulher, tira o paletó do smoking. Travolta está de gravata prateada; sua mulher, Kelly Preston, cintila junto dele. Isaac Hayes também está presente; mais tarde tocará uma versão de "The Long and Winding Road" (A Longa e Sinuosa Estrada) e lembrará aos ouvintes o profundo significado que o título tem para todos eles. Ao entrarmos no prédio, uma mulher encantadora nos entrega cópias de um livro de poemas escrito pelo homem que tornou tudo isto possível. Intitula-se "Ron - o Poeta Lírico". Esta é uma espécie de festa de igreja, mas nunca estive em nada parecido: é o 26º aniversário do Centro Internacional de Celebridades da Igreja da Cientologia. "Comemora o dia em que L. Ron Hubbard confiou ao Centro de Celebridades a missão de cuidar dos artistas e formadores de opinião de nossa sociedade", anuncia orgulhosamente do palco o presidente do centro. Passeio entre os presentes como um penetra numa excursão de turismo espiritual, segurando uma taça de Chardonnay e o livro de poemas, e escuto as conversas. "Estou sempre reclamando do dinheiro que temos de dar para a Cientologia, mas sempre vale a pena! Realmente ninguém pode dizer que só gente rica tem acesso", proclama uma moça sentada a uma das mesas. Uma equipe de vídeo da Cientologia cerca algumas das celebridades em busca de declarações. "O Centro de Celebridades salvou minha vida", diz a sorridente Kelly Preston. "A Cientologia nos considera como espíritos, não como o corpo de um animal", declara John Travolta. "Esse é o ponto de partida. Daí para a frente há conceitos ilimitados. É indiscutível o impacto que a Cientologia e o Centro de Celebridades tiveram sobre a comunidade artística. Eles ajudam os artistas a aperfeiçoar sua atuação e a se concentrar melhor -e dão uma ajuda real às suas carreiras." Com muito champanhe e muita bonomia, esse grupo chique e confiante parece jamais ter-se considerado uma minoria religiosa oprimida e, no entanto, há uma sensação generalizada de "nós e os outros". Essas pessoas acreditam num sistema que a maioria de nós acharia estranho. Mas o que pode ser estranho para nós é tão normal e eficiente para eles quanto o dinheiro que levam na carteira. O culto, o novo movimento religioso, a seita -chame-o como quiser- é um ato coletivo de rebelião espiritual. Coloca as questões que nós todos nos perguntamos, como: "Por que estamos aqui?" e "Por que alguns são ricos e outros pobres?". Mas cada culto produz todo um conjunto de explicações diferentes. E todo culto deve empenhar-se numa batalha sobre o território de nossa normalidade. Eles se aferram tenazmente às suas próprias realidades diante de um mundo hostil. Para alguns, como o Templo do Povo de Jim Jones, do Ramo Davidianos, a luta revelou-se catastrófica. Outros acabam conquistando aceitação: os Estados Unidos aprenderam a conviver com seitas como os amish e os mórmons. Texto Anterior: Leia um trecho do artigo Próximo Texto: Um Vietnã na Internet Índice |
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