São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Eleição não resolve o problema bósnio

IBRAHIM PRAHIC
DO "OSLOBODENJE"

A julgar por todos os parâmetros relevantes, as eleições de 1996 na Bósnia-Herzegóvina serão as mais complexas da história européia.
Entre esses parâmetros figuram as circunstâncias gerais que as cercam, o contexto internacional, o contexto imediato e a influência real dos regimes da Sérvia e da Croácia sobre os acontecimentos na Bósnia, além das motivações, dos interesses e das metas diferentes e até mesmo contraditórias dos partidos mais fortes no cenário político.
A afirmação de que as eleições bósnias são complexas talvez seja bem ilustrada pelo fato de que a votação teve início em junho em Mostar, continuou com o voto dos bósnios que vivem no exterior, no final de agosto e início de setembro, e prosseguiu ontem com a votação no próprio país para vários níveis de autoridade (cantonal, entidades e Estado).
Assim, a data de 17 de novembro parece ser realista e mais do que simples coincidência. Somando-se tudo, as eleições bósnias terão durado pelo menos cinco meses.
Contexto e ambiente
A eleição bósnia é uma ordem, assim como o acordo Dayton foi ordenado pela comunidade internacional. Assim, é compreensível que a vontade política bósnia e suas metas não estejam sendo suficientemente respeitadas.
O problema não pára por aí. A Organização para a Segurança e Cooperação da Europa e o alto representante da comunidade internacional para a Bósnia, Carl Bildt, estão cumprindo o mandado outorgado a eles de maneira inconsistente e indecisa, com uma série de falhas técnicas e decisões estrategicamente dúbias.
A essência do acordo Dayton é que ele não resolveu nenhum dos problemas-chave da Bósnia. É verdade que inclui muitas possibilidades, mas elas não são certas nem concretas. As eleições se encontram na mesma situação difícil. Elas não irão resolver um único problema importante na Bósnia.
O resultado dos acontecimentos ainda está por vir. Espera-se que a Bósnia não seja abandonada à sua própria sorte ou à mercê de seus vizinhos (Sérvia e Croácia) e do apetite deles por território bósnio.
O ambiente eleitoral geral é desfavorável. Não foi criada uma situação politicamente neutra. As eleições não serão democráticas, livres ou justas. Estão abaixo dos padrões vigentes em todas as nações democráticas.
As principais forças políticas existentes na Bósnia, juntas, não conseguiram modificar a situação criada após a decisão de que as eleições seriam realizadas a qualquer custo. Sob tais circunstâncias, as eleições se prestam aos desígnios das forças separatistas, porque estas as vêem como uma chance para usar de força para vencer nas urnas e aproveitar o resultado para legitimar a situação criada por meio de crimes.
Nessas circunstâncias, tudo o que vem acontecendo na campanha e que afetará os resultados das eleições é reflexo da situação global da Bósnia e, de certo modo, da comunidade internacional.
É preciso lembrar que existem na realidade bósnia três territórios políticos, com três vontades políticas e três orientações psicológicas. A situação do território controlado pelo governo de Sarajevo é essencialmente diferente daquela existente na entidade sérvia e na "Herceg-Bosna" croata, mas nem a primeira conseguiu criar condições democráticas. Pelo contrário: uma série de incidentes e o recurso à força contra os partidos de oposição já levaram as pessoas mais críticas a enxergar como nivelada a situação nos três territórios.

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