São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Etnias têm suas culpas

DO "OSLOBODENJE"

A Bósnia ainda é dominada por três vontades políticas diferentes -as das etnias sérvia, muçulmana e croata-, entre as quais não existe nem sequer um mínimo de consenso em relação às metas básicas, de modo que cada uma delas impede a reintegração do país.
Assim, a responsabilidade (ou culpa) de cada uma delas é diferente. Eu me refiro às vontades políticas dominantes na entidade sérvia, no autoproclamado Estado croata de "Herceg-Bosna" e no principal partido político bósnio: o Partido da Ação Democrática (SDA).
Há também na Bósnia uma quarta vontade política, que possui o potencial de dirigir os acontecimentos para a integração, mas essa alternativa ainda está pouco articulada e não tem força suficiente para prevalecer sobre as forças que tendem à desintegração.
O autor deste artigo não está bem informado sobre as circunstâncias vigentes na entidade sérvia, a República Srpska, portanto esta análise se refere apenas à Federação Muçulmano-Croata.
Os partidos governistas bósnio e croata, respectivamente SDA e HDZ (Comunidade Democrática Croata), fizeram campanhas amplas, em muitas instâncias glamourosas e caras.
O HDZ não abandonou sua aspiração de ser o representante político de todos os croatas na Bósnia. Sua campanha foi sempre reconhecível e manteve consistência, mas foi menos convincente do que nas últimas eleições.
O slogan conhecido e efetivo que adotou nos anos 90, "Nós sabemos", já está desgastado, e os novos, "Um partido que tem uma tarefa histórica" e "Nossa opção é a paz", não são convincentes.
O SDA teve uma gama mais ampla de slogans, mas o mais frequente e o mais convincente é "Em nossa religião e nossa terra".
Seus partidários o aceitam, e a oposição afirma que ele é indicativo de uma tendência ao reducionismo e isolacionismo que favorecem as forças separatistas existentes nos dois outros partidos governistas -HDZ e o Partido Democrata Sérvio (SDS).
Os líderes do SDA, certos de seu poder, não dão muitos ouvidos às críticas. Insistem na tese de que os croatas vão votar no HDZ, os sérvios, no SDS, e que, nessa situação, é imperativo que os bósnios votem em um partido -o SDA.
O vice-presidente do SDA, Ejup Ganic, insistiu em seus comícios: "Não deixem que nos dividam politicamente, pois só somos fortes quando estamos juntos". Assim, pela escala de valores, o nacional veio antes da Bósnia, mas quem se importa com isso quando se trata da corrida eleitoral?
A oposição não encontrou uma resposta muito boa e não capitalizou em cima de uma série de pontos fracos das campanhas eleitorais do SDA e do HDZ.
A coalizão Lista Conjunta (SDP, UBSD, HSS, MBO e republicanos) tem uma idéia que é a antítese do conceito nacional e que está em harmonia com a tradição bósnia. O slogan "Já nos unimos, agora vamos unir o país" tem como alvo o interesse regional.
Resta saber até que ponto será capaz de atrair os nacionalistas. O líder da Lista Conjunta, Zlatko Lagumdzija, diz: "Se nossas idéias não vencerem agora, vencerão amanhã".

Tradução de Clara Allain
"Oslobodenje", jornal de Sarajevo, participa com a Folha da rede de publicações "World Media"

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