São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Avancini ressuscita 'Xica da Silva' em versão politicamente correta

DANIEL CASTRO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Vinte anos depois do lançamento do filme de Cacá Diegues, a Rede Manchete ressuscita em sua próxima novela -que estréia terça-feira, às 22h- a história de Xica da Silva, "a escrava que virou rainha" no Brasil da segunda metade do século 18.
O diretor de Teledramaturgia da Manchete, Walter Avancini, 60, diz que não há nada em comum entre a novela e o filme, que considera "uma alegoria histórica".
Avancini afirma que a personagem principal de seu "folhetim histórico" será "menos objeto sexual" do que a retratada no cinema: Xica será uma negra sensual, porém "consciente", em versão "politicamente correta".
A novela, assim como o filme, parte de um dado histórico: a relação entre a escrava Xica e o fidalgo João Fernandes, nomeado pelo rei de Portugal, em 1751, como contratador do Arraial do Tijuco (hoje Diamantina, MG).
Explorador da mineração de diamantes, o capitalista Fernandes ocupava na época um posto hoje equivalente ao de governador. Apaixonado por Xica, ele a compra, lhe dá a liberdade e a transforma em primeira-dama, escandalizando a sociedade. Ela, então, se torna uma mulher poderosa e "revolucionária".
Com orçamento de R$ 10 milhões, "Xica" terá inicialmente um tratamento de minissérie, com muita ação -só no primeiro capítulo, há pelo menos dez cenas de violência e sexo (leia quadro ao lado).
A seguir, os principais trechos da entrevista com Avancini:
*
Folha - O que existe em comum entre a novela e o filme?
Walter Avancini - O fato histórico. É a única singularidade.
Folha - O filme é equivocado?
Avancini - Acho o filme uma leitura bem realizada, uma alegoria histórica. Equivocada é uma coisa que está na própria cultura, a visão da mulher negra apenas como um objeto sexual. O filme está dentro desse conceito, mas não exclusivamente.
Folha - Como o erotismo de Xica será tratado na novela?
Avancini - Como uma coisa natural, mas não será o fundamental. Haverá a busca de uma grandeza humana, do comportamento de uma mulher negra naquela época, que enfrentou toda uma sociedade.
Folha - Como é a sua Xica?
Avancini - É um personagem consciente, mais do que sensual. É consciente desse resgate que está fazendo da mulher negra.
Folha - Parece haver uma preocupação em fazer uma Xica da Silva politicamente correta...
Avancini - A preocupação maior é essa. É uma leitura da história, mais verdadeira, que considera a influência dos negros na sociedade.

O jornalista DANIEL CASTRO viajou ao Rio de Janeiro a convite da Rede Manchete.

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