São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 1996
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34 países começam discussão hoje

Brasil e EUA mantêm divergências na Alca

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Representantes dos 34 países das Américas, excluída Cuba, reabrem hoje e amanhã, em Florianópolis (SC), as negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que, se vier a ser implementada, será o maior bloco comercial do planeta.
A proposta norte-americana é lançar a Alca em prazo relativamente curto (em 2005), mas há divergências, principalmente entre os EUA e o Brasil, em torno de como e quando iniciar as negociações concretas.
Uma área de livre comércio pressupõe a redução das tarifas de importação para a produção dos países-membros, até eventualmente zerá-las. O Itamaraty defende a tese de que é preciso avançar com cuidado porque a indústria brasileira não estaria preparada para o que o chanceler Luiz Felipe Lampreia chama de "segunda onda de abertura".
A primeira foi executada no governo Collor.
A segunda ordem de divergências diz respeito à maneira de se chegar à Alca. Os Estados Unidos preferem uma negociação país por país, o que, na prática, significaria a adesão dos outros 31 países americanos ao Nafta, o bloco formado por EUA, Canadá e México.
Já o Itamaraty defende o que, no jargão diplomático, se chama de "building blocks", ou seja, construir a Alca bloco a bloco.
Se prevalecer a tese brasileira, a negociação não seria, por exemplo, entre o Brasil e o Nafta, mas entre o Mercosul (que inclui também Argentina, Paraguai e Uruguai) e o Nafta.
Mais: o Mercosul está em negociações para assinatura de acordos de livre comércio com países sul-americanos (exceto as três Guianas), sem mencionar México.
A proposta brasileira é a de criação de uma Alcsa (Área de Livre Comércio Sul-Americana). Se se chegar a esse ponto, antes de que a Alca avance, a negociação seria entre o bloco sul-americano e o bloco norte-americano.
Como é óbvio, dá mais peso negociador aos países do Sul ante a incontrastável força dos EUA.
Ainda mais agora que está se invertendo velozmente a tendência de os Estados Unidos importarem mais do que exportarem para seus vizinhos do Sul.
Entre 1990 e 1994, as exportações norte-americanas para a América Latina cresceram 79,1%, muitíssimo mais do que o crescimento ocorrido em outros mercados, como Japão e Europa.
A reunião de Florianópolis servirá também para uma avaliação dos trabalhos dos 11 grupos temáticos criados até agora pela Alca, nos encontros anteriores.
Incluem praticamente todos os assuntos que dizem respeito ao comércio, tanto de bens como de serviços, como subsídios, acesso aos mercados, investimento e políticas de concorrência.

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