São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 1996
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'Decadência é coisa natural', diz Arraes

'Estagnação do pensamento' é pior, afirma

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), 79, considera a decadência "uma coisa natural na vida". Para ele, ninguém está isento das "flutuações da opinião pública", traduzidas pelas eleições.
Arraes, que é presidente nacional do PSB, defende que os partidos de esquerda rediscutam seus valores para evitar "um tipo de decadência, que é a estagnação do pensamento".
O governador acredita que a renovação das lideranças seja fruto "da luta política e social". A sociedade, diz, é quem seleciona as pessoas. "Ninguém é escolhido para líder, o homem é feito pela luta."
Os candidatos a prefeito de Recife (PE) apoiados por Arraes não vencem eleições municipais desde 1988.
Este ano, Arraes apóia a candidatura do senador Roberto Freire (PPS) que, segundo as pesquisas, ainda não decolou. A seguir, trechos da entrevista de Miguel Arraes:
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Agência Folha - Há decadência das lideranças de esquerda no país?
Miguel Arraes de Alencar - Todos nós decaímos a cada dia, porque envelhecemos. Politicamente, ninguém está isento das flutuações da opinião pública. Essa flutuação existe. Por isso mesmo é que há eleições, há revezamento. Hoje você perde, amanhã ganha. Não há pessoas eternamente donas da opinião pública, donas do voto. A decadência é uma coisa natural na vida.
Agência Folha - O sr. acha que há necessidade de os partidos de esquerda rediscutirem seus valores, a necessidade de renovação?
Arraes - A rediscussão é uma necessidade. Quem não rediscute as coisas, até mesmo para confirmá-las, se for o caso, decai. Tem um tipo de decadência que é a estagnação do pensamento. A pessoa não pode ficar estagnada.
Agência Folha - Qual o caminho para lideranças como o sr., o Lula e o Brizola?
Arraes - Acho que nós somos três pessoas que temos semelhanças, mas muitas diferenças. Para julgar, veja a história de cada um, o que dizem, o que fazem. Eu não vou examinar minha própria trajetória nem a de fulano e beltrano. Eu não examino as pessoas. Eu examino o processo político. As pessoas são pequenas parcelas desse processo.
Agência Folha - O sr. não consegue eleger o prefeito de Recife desde 88. Que fator contribui para isso?
Arraes - Para saber a razão efetiva é preciso ouvir as pessoas que vão votar. Elas é que têm razões, não eu.

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