São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996 |
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Crise deixa os agricultores endividados
VALMIR DENARDIN
Em 93, ele resolveu investir na lavoura de alho. Construiu armazém para secagem do produto e instalou câmara fria em sua propriedade de 97 ha. Mas a importação de alho da China levou o agricultor a abandonar a atividade e se dedicar à cebola. Agora, depois de nova frustração, Silva partiu para o plantio de verduras e legumes. "Mas a alface também está com preço muito ruim", diz. Para plantar 7,2 ha de cebola este ano, Silva gastou cerca de R$ 10 mil. Endividado, já vendeu 29 ha e pretende colocar à venda também um caminhão. Com uma dívida de R$ 12 mil em bancos e empresas de agrotóxicos, o produtor Ayrton Rodrigues Machado, 46, já vendeu um trator, um fusca e uma máquina classificadora de cebola e dispensou seus dois empregados. Apesar do prejuízo por ter vendido 31 t do produto a R$ 0,03/quilo, Machado decidiu apostar a "última cartada" na cebola. Plantou 2,6 ha. A colheita ocorre entre novembro e dezembro. Abner Soares da Silva, 46, vendeu um caminhão para financiar a plantação de 6 ha com cebola. Colheu 150 t em 4 ha, que permanecem estocadas. Em 2 ha, a produção ainda não foi colhida. Ele acumula dívidas de R$ 10 mil. "Se o preço da cebola não melhorar, vou ter que vender um trator para pagar o banco", diz. Concorrência Há pouco mais de um mês, representantes dos produtores de cebola de Piedade enviaram carta ao ministro da Agricultura, Arlindo Porto, cobrando providências para o que consideram "concorrência desleal" com o produto argentino. O setor defende que seja proibida a importação para regiões produtoras no país e que a fiscalização sanitária seja mais rigorosa. "Queremos evitar que nossas lavouras sejam contaminadas por pragas que não existem aqui e impedir que produtores dos outros países usem agrotóxicos proibidos no Brasil", diz Borzacchini. O governo brasileiro, porém, não pretende adotar medidas para restringir a entrada da cebola argentina no país, segundo apurou a Agência Folha junto ao Ministério da Agricultura. A principal saída apontada pelos técnicos do ministério é a diversificação das lavouras. Segundo a secretaria, a cebola argentina -que entra no Brasil há 20 anos- passa por fiscalização fitossanitária na fronteira. (VD) Texto Anterior: Discutir preço é ultrapassado, diz criador Próximo Texto: Produtor deve testar as sementes de soja Índice |
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