São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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A grande autoridade

JANIO DE FREITAS

Se uma pequena parcela do empenho em combater o vício do cigarro se voltasse contra o vício do autoritarismo, que acomete os investidos de qualquer fumacinha de autoridade governamental, não se precisaria de mais para ver dissolvidas quase todas as complicações que infernizam este país.
Todos conhecemos infinitos exemplos desse autoritarismo, dispensando citações esclarecedoras e permitindo ir logo ao caso que interessa aqui: o agravamento, já em nível alarmante, das tensões entre o movimento dos sem-terra, fazendeiros armados e o Ministério dito da Política Fundiária.
Como grupos do movimento invadiram dependências governamentais, e a liderança nacional do movimento não aceita prometer o fim de tais invasões, o ministro Raul Jungmann decidiu que nenhum setor do seu ministério negociará com os sem-terra em qualquer foco de tensão. Por ter recebido representantes do movimento para discutir o problema grave no Pontal do Paranapanema, o superintendente do Incra em São Paulo foi exonerado por Jungmann.
Mesmo que o ministro ignore ser da sua primeira obrigação, como integrante de um governo, contribuir para a tranquilização da sociedade, não importa que tipo de problema a inquiete, ficou devendo a indicação do fundamento em que se baseou para proibir a busca de solução negociada para um conflito. Deve e não pagará, porque o seu fundamento não existe em nenhuma norma legal, ética ou lá o que seja. Está só na norma pessoal que adotou por se ver investido de uma autoridade que os fatos teimam em mostrar apenas relativa. Menos real do que suposta.
Há duas semanas foi divulgado o levantamento oficial que indicou serem mais de 60% do território nacional as terras ainda à espera de utilização. A existência de conflitos já é, portanto, denúncia suficientemente forte da inoperância governamental, dispensando que um ministro se faça passível de co-responsabilidade em eventual conflito grave, ao impedir a busca preventiva de solução negociada. E só pelo vício do autoritarismo.
Cuidado
Presidente da Telebrás no governo de Itamar Franco, Djalma Moraes foi personagem central do episódio mais escancarado de uso do governo para tomar recursos em benefício da candidatura de Fernando Henrique Cardoso. Na formação do novo governo, foi personagem central do episódio de cobrança mais escancarada por uma nomeação rendosa. Não faltou nem a ameaça de divulgar histórias comprometedoras da candidatura e do seu êxito.
Djalma Moraes conseguiu, é claro, ser vice-presidente da Petrobrás Distribuidora. Onde continua sendo o que já era. E mais alguma coisa: é, também, o principal inventor e distribuidor de notas que incomodem a cúpula do governo. Foi assim que usou pessoa de minha confiança para difundir a inverdadeira falta de concorrência na Telemig, em recente compra de terminais telefônicos.
Ficam a retificação e a advertência para tudo o que envolva, direta ou indiretamente, a figura ou o nome de Djalma Moraes.

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