São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Quanto cairá o juro?

CELSO PINTO

O Banco Central deverá anunciar, terça-feira, uma redução na taxa básica de juros, a TBC, válida para outubro. O quanto é algo que divide hoje a área econômica do governo e que poderá ter importantes implicações para frente.
Para uma ala, que reúne a Secretaria do Planejamento e pelo menos parte da Fazenda, a forte queda recente da inflação abre espaço para uma queda mais ousada nas taxas de juros. O Banco Central, que tem mantido uma postura ultraconservadora, reluta em aceitar um corte mais significativo nos juros.
A resposta ficará clara na terça-feira, quando reúne-se o Conselho de Política Monetária, o Copom, órgão criado recentemente pelo BC e composto apenas por membros de sua diretoria, com a função de fixar os juros básicos (TBC e TBAN). Parece com o Bundesbank, banco central alemão, mas como a diretoria do BC fala português e, na vida real, não é independente, é quase certo que, quando os membros do Copom se sentarem à mesa, a decisão já esteja acertada.
O BC tem agido, nos últimos meses, com uma dose extra de prudência. De julho para agosto, interrompeu uma longa série de reduções mensais e decidiu manter a TBC inalterada em 1,9%, o que foi interpretado como uma cautela explicável pela crise argentina. De agosto para setembro, cortou a TBC em exatos 0,02%, uma redução quase invisível a olho nu.
Entre julho e setembro, contudo, a inflação despencou e virou deflação em vários indicadores. O BC, obviamente, não reage apenas a variações da inflação num mês. No entanto, é do governo a projeção de uma inflação em torno de 0,5% ao mês, em média, até o final deste ano e de 8% a 9% em 1997.
Com uma inflação estável em 0,5% ao mês, uma TBC de 1,88%, como a atual, indica um juro real, acima da inflação, de 18% ao ano, bem mais do que a média imaginada pelo BC para este ano. Há espaço para queda.
Existem, contudo, outras implicações na fixação da taxa de juros e elas estão no substrato das diferenças de opinião. Mesmo o mais otimista técnico da área econômica admite que a situação das contas fiscais só vai melhorar gradualmente. A curto prazo, com o governo ainda gerando déficit em suas contas, os juros altos têm sido a única forma de controlar o crescimento da economia e, portanto, o impacto que este crescimento poderá ter sobre as contas externas.
A economia vem acumulando sinais de expansão há meses. A enorme cautela do BC com os juros tem sinalizado a intenção oficial de evitar um crescimento excessivo. Uma queda mais brusca dos juros poderia ser lida como uma guinada nesta postura, diz um banqueiro.
Outra implicação é na remuneração interna dos aplicadores em dólares, que vem caindo mês a mês e hoje está ao redor de 13% ao ano. Muitos identificam nesta queda a razão para uma retração nas aplicações em dólares, responsável por uma queda de reservas em julho, um pequeno aumento em agosto e a projeção de nova queda, entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão, neste mês.
Os mais ousados, no governo, acham que está na hora de mudar a sinalização. Já que a inflação cedeu, é o caso de cortar os juros e desacelerar de forma compatível também as desvalorizações do câmbio. Se isso implicar alguma perda de reservas, paciência: elas ainda estão em US$ 58 bilhões e uma redução poderia até ajudar no lado dos gastos fiscais.
De outro lado, está claro que o crescimento implicará déficits na balança comercial deste ano (algo em torno de US$ 2,5 bilhões) e no próximo (uns US$ 5 bilhões). E daí?, perguntam alguns no governo. O déficit é financiável.
Importante é avançar no ajuste fiscal, consolidar ganhos nas contas públicas para 97 e contar com a aprovação da reeleição para animar os investidores externos. Um crescimento mais vigoroso, de 5%, ajudaria na consolidação fiscal.
Não há propriamente divergências em relação a esta estratégia, que desembocaria na reeleição de Fernando Henrique Cardoso, mas o "timing" do BC certamente é bastante cauteloso. A batalha pela TBC de outubro, ao que tudo indica, é só a primeira.

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