São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Os rituais do feriado de Páscoa

DANIEL ROGOV
DO "WORLD MEDIA"

Por comemorar o êxodo dos israelitas do cativeiro no Egito antigo, o feriado da Páscoa, comemorado anualmente no início da primavera, é interpretado como uma celebração da liberdade e como período de renovação e otimismo.
O feriado tem certos pontos em comum para todos os judeus praticantes do mundo inteiro. Além de manter as normas do "kashrut", referentes à dieta, que já são seguidas durante o ano todo, existem certas normas especiais referentes ao que pode e o que não pode ser comido durante a Páscoa.
A primeira e mais importante dessas normas está ligada ao fato de que durante o êxodo e os 40 anos seguintes, período no qual vagaram pelo deserto do Sinai, os israelitas não dispunham de tempo nem condições para fazer pão fermentado.
Aquilo que com o tempo acabou sendo conhecido como pão "matzot" -pão seco e chato- era uma simples mistura de farinha e água, provavelmente assada sobre pedras quentes. Para lembrar aquela época, há regras rígidas que proíbem o consumo de produtos fermentados de farinha durante a Páscoa, tais como pão, macarrão ou qualquer outro alimento que pode ter sido preparado com fermento.
Para assegurar que não haja nenhum vestígio de pão fermentado na casa durante a Páscoa, os preparativos começam vários dias antes do feriado e incluem uma faxina da casa inteira. O uso de utensílios de cozinha e pratos especiais durante o feriado funciona como garantia adicional de que nenhum alimento proibido irá aparecer na mesa.
O feriado é caracterizado por vários outros pontos. Em todos os lares a chegada da Páscoa é marcada pelo "seder", uma cerimônia familiar e refeição comemorativa realizada seguindo uma ordem altamente ritualizada. A família se reúne em volta da mesa festiva, a "haggadah", e é feita a leitura de um livro de orações especiais, enquanto quatro taças de vinho são consumidas durante a refeição.
Em cada mesa são colocados alimentos simbólicos: um ovo cozido duro, para expressar pesar pela destruição do Templo de Jerusalém; ervas amargas, para recordar os tempos do cativeiro; "haroset", um misto de nozes, maçãs e vinho que simboliza os tijolos e a argila que os escravos israelitas tinham que preparar no Egito, ramos de salsa e aipo para simbolizar a primavera e a esperança e uma tigela de água salgada para lembrar a tristeza do cativeiro.
Um cálice de ouro ou prata, especialmente ornamentado e contendo vinho, é colocado na mesa em homenagem ao profeta Elias, e um lugar a mais é colocado na mesa caso chegue um convidado inesperado.
A Páscoa é comemorada de maneiras diferentes em diferentes partes do mundo. Em Israel, são sete dias de feriado, no resto do mundo, oito, e enquanto muitos judeus ainda preparam "seders" no primeiro e segundo dias do feriado, os judeus reformistas e os que vivem em Israel fazem apenas uma refeição assim.
Mas as diferenças mais marcantes dizem respeito ao estilo culinário dos pratos preparados para o feriado. As mesas dos judeus originários da Europa central e oriental contêm pratos que muitas pessoas vêem como sendo tipicamente judeus, tais como arenque na salmoura com maçãs, peixe "gefilte", sopa de frango com bolinhos de farinha "matzo" e aves recheadas.
Refletindo raízes culinárias próprias, as mesas de Páscoa dos judeus norte-africanos e mediterrâneos incluem charutos de uva (folhas de videira recheadas com carne e arroz), enquanto os judeus búlgaros invariavelmente servem "ghivetch", um prato de legumes cozidos semelhante ao "ratatouille" francês.
Já muitos judeus da Geórgia, que integra a Comunidade dos Estados Independentes, servem carnes grelhadas com "tkemala", um delicioso molho doce de ameixas.
O prato principal na mesa do "seder" dos judeus etíopes muitas vezes é um cozido de frango temperado conhecido como "wat". Judeus vindos da Índia servem "mali wali burghi", frangos inteiros recheados com castanhas.

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