São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desgaste pode indicar manutenção falha

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

SERGIO TORRES
O desgaste de peças do sistema de freios do trem cargueiro acidentado em Japeri (município a 60 km do Rio) pode ser a evidência de que a manutenção das locomotivas e vagões não vinha sendo feita de maneira ideal.
O Sindicato dos Ferroviários informou ter verificado no local do acidente que sapatas dos sistemas de freio das composições apresentavam desgaste acentuado.
O diretor do sindicato, Edson Lobão, 26, admitiu que pode ter havido falha na vistoria. Segundo ele, a negligência na vistoria, quando ocorre, é por pressão da diretoria, interessada em cumprir prazos de entrega.
Lobão disse que marcas nas rodas dos vagões do cargueiro comprovariam que "a freagem não foi homogênea". Ele afirmou que algumas rodas estavam azuladas pelo atrito, o que demonstraria que foram freadas. Outras não tinham marcas.
O chefe de gabinete da Superintendência Regional da rede, Dirceu Falce, negou que haja negligência da empresa na manutenção dos trens. Segundo ele, um trem pode passar "quatro, cinco dias" em manutenção.
Acidente
Na manhã de anteontem, um trem com 18 vagões carregados com bobinas de fios de aço chocou-se contra a traseira de um trem de passageiros, parado perto da estação de Japeri, provocando a morte de 15 pessoas.
Uma pane no sistema de freios do trem de cargas foi a causa do acidente, disse anteontem o presidente da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), Isaac Popoutch.
Segundo Popoutch, a pane pode ter sido causada por falha na vistoria realizada em Barra do Piraí (a 22 km do Rio), última parada do cargueiro antes do acidente.
O mecânico que fez a vistoria, Reinaldo Augusto da Costa, 51, negou que tenha falhado na execução do serviço.
"Fiz o teste de cauda antes de o trem partir e o freio estava funcionando", afirmou Costa à Folha.
O teste de cauda consiste na retirada da válvula de ar comprimido situada na parte traseira do trem. Quando o ar não sai, é indício de que alguma coisa está defeituosa no sistema de freios.
"O ar saiu normalmente. Os freios estavam funcionando. O que aconteceu foi uma fatalidade", disse Costa, que trabalha na RFFSA há 26 anos.
O mecânico não descartou a possibilidade de, após a vistoria, realizada em cinco minutos, os freios terem apresentado defeito.
Para Costa, o trem pode ter desenvolvido uma velocidade excessiva, e os freios não tiveram a capacidade de parar o trem.

Texto Anterior: Consumidor se queixa de atendimento
Próximo Texto: Enterro de bebê e mãe emociona cidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.