São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Jogar a Copa Davis é o máximo para o tenista

CÁSSIO MOTTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Afinal, o que é a Copa Davis? É uma espécie de Copa do Mundo do tênis, que reúne os países de todo o mundo.
Dentro desta competição, existem várias fases e níveis. O máximo para um país, e para os jogadores que o representam, é participar do grupo principal.
Esse é o nome dado a um seleto grupo de 16 participantes, que efetivamente disputa o título da Davis.
Agora, jogar a Copa Davis pelo Brasil, representando seu país, é, sem dúvida, o máximo para o jogador.
O tênis é um esporte muito individual. Na Davis, o jogador faz parte de uma equipe e representa diretamente sua pátria.
Durante muito tempo fiz parte da equipe brasileira. Tive experiências incríveis. Fui vaiado, xingado, cuspido. Usaram contra mim uma série de outras artimanhas.
Eram táticas utilizadas pelo país-sede do encontro.
A torcida local participa muito mais, grita a cada ponto, bate palma, mexe com o jogador, e todo aquele conceito de que tênis exige silêncio acaba.
A euforia da vitória, por sua vez, é maravilhosa.
Juízes teoricamente neutros tomam decisões sob o olhar de um supervisor da Federação Internacional, onde a neutralidade varia dependendo da torcida, do clima, da agitação.
A adrenalina e o medo do público muitas vezes influenciam a decisão.
A influência acontece principalmente quando a quadra é um carpete, em que a bola pula e não deixa marca.
Já fui vítima disso em alguma competições. Uma passagem curiosa aconteceu no Equador.
Jogávamos em Guayaquil e tinha várias pessoas armadas na platéia. Nosso técnico não podia nem levantar do banco. Um coro de vozes gritava: "Senta".
Não tinha um policial no local. Sofremos uma pressão muito grande. O juiz também sentiu e ia marcando pontos. Todos para o Equador.
Jogar no carpete também nos prejudicou num confronto contra a Alemanha. Em Essen, perdemos por 5 a 0. Parecia que jogávamos em um escritório. No carpete rápido, não tivemos chance.
Depois disso, a Federação Internacional proibiu o carpete alegando ser impróprio para a competição. Aliás, não havia nenhum torneio no mundo, no circuito profissional, jogado sobre essa superfície.
Outro momento inesquecível foi o confronto Brasil x Alemanha, no Rio. Preparamo-nos numa quadra muito lenta. Com o calor e o apoio da torcida, ganhamos da Alemanha.
Em seguida, passamos pela Itália e chegamos à semifinal.
Espero que o Brasil jogue agora e consiga subir para a Primeira Divisão. Desejo sorte aos nossos tenistas.
Eles são exemplo do talento e do autodidatismo dos tenistas brasileiros, que conseguem destaque mesmo sem apoio governamental e sem patrocínio.
Não temos um programa destinado a formar tenistas de alto nível. Nossos atletas não têm apoio psicológico e até a bolinha usada nos treinos têm que pagar.
Mesmo assim acredito na vitória, graças ao apoio da torcida. Boa sorte, Brasil!

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