São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Papa chega à França sem mostrar problema de saúde

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

O papa João Paulo 2º, 76, chegou ontem à França para uma visita de quatro dias parecendo relativamente robusto e sem demonstrar problemas de saúde.
Sob uma fina chuva, João Paulo 2º desceu as escadas do avião em que estava sem ajuda de ninguém para se encontrar com o presidente francês, Jacques Chirac.
A visita à França deve ser a última do papa antes de sua operação no apêndice, ainda não marcada.
Na sua última viagem, à Hungria, o papa parecia frágil e doente. Durante a visita à França, foi montado um esquema especial para o caso de o papa adoecer.
O presidente Jacques Chirac recebeu o papa marcando o caráter laico da República, mas salientando as raízes católicas da França.
João Paulo 2º desembarcou em Tours, onde manteve uma conversa privada de 20 minutos com o presidente francês.
A visita tem como ponto alto a comemoração dos 1.500 anos da conversão do rei Clóvis ao cristianismo. A cerimônia será realizada em Reims, no próximo domingo.
A presença do papa causa polêmica sobre as relações entre a igreja e o Estado. Várias manifestações contra a visita estão previstas, uma delas no domingo, em Paris.
Os principais jornais estamparam em suas primeiras páginas o desconforto da presença do papa.
O "Libération" publicou uma foto do papa com a frase "L'encombrant visiteur" (algo como o visitante que é um estorvo).
Poucas pessoas se dispuseram a enfrentar a chuva fina de ontem para ver João Paulo 2º no "papamóvel" em Tours (oeste).
Rejeição
Uma pesquisa publicada pelo jornal "Le Parisien" revela que a imagem do papa na França se deteriorou nos últimos oito anos, data de sua última visita ao país.
Em 1988, 26% desaprovavam "suas grandes orientações", como a rejeição ao aborto, ao controle da natalidade e ao homossexualismo. Hoje, 51% dos franceses discordam das orientações.
Atualmente, 22% dos franceses acham que João Paulo 2º é aberto ao mundo -contra 46% em 1988.
A última polêmica envolvendo a visita do papa é a recusa de um homem portador do vírus da Aids de se encontrar com João Paulo 2º.
Jean-Marc Oyez, 33, mora em Tours, onde o papa estará amanhã com "120 feridos da vida", na basílica de Saint-Martin.
Oyez recusou o convite para ser um dos "feridos da vida" -pessoas que sofrem problemas graves.
A justificativa dele, que é homossexual, foi a oposição da Igreja Católica ao uso de preservativo e às relações homossexuais.
"O termo 'ferido da vida' me chocou profundamente. Não sou mais uma criança. Tenho o direito de ser homossexual e soropositivo. Eu sabia que meu companheiro tinha o vírus. Eu fui punido."
Oyez é católico praticante, mas não costuma ir à igreja. "Pratico em casa, sozinho, e isso me ajuda. É duro para nós, pois o mundo religioso nos aceita mal", afirmou.

Texto Anterior: Presidente francês tenta amenizar críticas ao papa
Próximo Texto: Coréia do Sul mata 7 agentes do Norte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.