São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Fogo destrói barracos ao lado do Cingapura

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 80 barracos foram destruídos ontem de madrugada em um incêndio na favela da avenida Zaki Narchi, em Santana (zona norte de São Paulo).
O fogo começou por volta de 3h45 e foi controlado duas horas depois. Ninguém ficou ferido.
Nove dos barracos destruídos faziam parte de um alojamento da prefeitura para moradores cadastrados para o projeto Cingapura construído no local. Os outros 73 barracos queimados ficavam em uma área invadida.
Segundo os moradores, o incêndio teria começado em um barraco abandonado na área invadida, utilizado por garotos para fumar crack e cheirar cola.
O fogo se alastrou rapidamente e subiu o aterro onde estão os alojamentos, atingindo nove deles.
Segundo a prefeitura, os moradores cadastrados para o Cingapura seriam removidos para alojamentos do projeto na Vila Guilherme (zona norte).
Os invasores que perderam as casas seriam abrigados em casas de familiares ou amigos, ou seriam levados para abrigos provisórios da prefeitura.
Segundo o levantamento feito pela Secretaria do Bem-Estar Social, 217 pessoas ficaram desabrigadas após o incêndio.
Treinamento
Os moradores da favela participaram de um treinamento antiincêndio no início do mês, ministrado pela construtora dos prédios do Cingapura, a Schahin Cury.
Além de instruções básicas de como evitar e combater o fogo, os moradores receberam 22 extintores de pó químico de 5 kg e outros 22 de água de 5 kg.
A construtora também desligou fiações clandestinas de energia elétrica e cortou a ligação dos barracos da área invadida.
Segundo Maria Elizabeth Nave Teixeira, assistente social do projeto Cingapura, no dia 30 de agosto houve um princípio de fogo na área dos alojamentos provocado por um curto-circuito na fiação elétrica.
Falta de condições
A vereadora Aldaíza Sposati (PT) enviou ofício ao Ministério Público e ao secretário da Habitação pedindo informações sobre o destino das famílias desabrigadas.
"As famílias estão sendo parceladas para diversos abrigos. O abrigo de Santa Etelvina (zona leste) não tem água nem luz", afirma.
Segundo ela, a prefeitura quer se eximir da responsabilidade jogando a culpa pelo incêndio nos próprios moradores. "Como se eles curtissem o autoflagelo", disse.
"Os moradores da favela ficaram abandonados pela prefeitura, que só escondeu a favela construindo prédios do Cingapura na frente da avenida", afirma Sposati.

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