São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Desenvolvimento não é retórica

GILMAR MASIERO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O debate sobre desenvolvimento está de volta, depois de quase duas décadas em que o essencial foi a crise da dívida e a estabilização.
No Brasil o debate também está renascendo. Gustavo Franco, do Banco Central, por exemplo, escreveu que modelos de desenvolvimento não passam de retórica.
Sem menosprezar a dimensão retórica das políticas econômicas, o fato é que, ao menos quando se trata dos bem-sucedidos casos asiáticos, modelos não são dispensáveis e podem ser decisivos.
É o que mostra o livro mais recente de Edgar Schein, um dos mais respeitados estudiosos contemporâneos de "cultura organizacional", aplicando os conceitos dessa disciplina ao Economic Development Board (EDB, o Conselho de Desenvolvimento Econômico) de Cingapura. O professor do MIT mostra como a potência asiática se organizou para dar saltos de desenvolvimento.
Em "Strategic Pragmatism", além da retrospectiva histórica das principais lideranças dO EDB desde sua fundação em 1961, Schein descreve as percepções de investidores como Mobil, DuPont, Shell, Sony, Hitachi e Thompson.
Para escrever o livro, Schein participou, durante dois anos, de várias reuniões com membros da EDB, para "sentir" o trabalho do dia-a-dia.
O modelo de desenvolvimento passou por várias etapas: curar o desemprego via substituição de importações; exportação e internacionalização; transição para indústrias capital-intensivas; e, mais recentemente, indústrias baseadas no conhecimento e nos serviços, com regionalização. Em todas as fases houve a elaboração, pela EDB, de planos de desenvolvimento econômico.
Por que pragmatismo? Para Schein, "a EDB teve claros os seus objetivos de longo prazo, mas ao mesmo tempo permaneceu taticamente muito flexível na busca desses objetivos e ágil na solução de problemas do dia-a-dia de seus clientes" (p.24), com "capacidade de adaptação e aprendizado sem sacrificar a solução de problemas de curto prazo" (p.58).
Entre os paradoxos do modelo estão a intervenção governamental nas empresas privadas, a autocracia participatória ou "hierarquia não-hierárquica", o grupismo individualístico e o centralismo distribuído.
Numa época em que a prática do "benchmarking" é crescente, o livro do professor Schein revela como as rápidas transformações em Cingapura e na Ásia devem ser estudadas por todos os interessados em desenvolvimento econômico.
Revela ainda algo que talvez seja até mais importante, em especial no Brasil: entender que entre os interessados no assunto estão não apenas os economistas, mas administradores públicos e privados, investidores e trabalhadores. Desde, é claro, que se consiga ir além da retórica.

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