São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Montebranco

JUCA KFOURI

Quando Carlos Augusto Montenegro assumiu a presidência do Botafogo foi criada uma boa expectativa em torno dele.
Seu discurso era bom.
A volta do Botafogo a General Severiano e os títulos obtidos quase fizeram de Montenegro um símbolo.
Quase.
Aos poucos ele foi se aliando ao velho e mostrando um desequilíbrio emocional que o transformaram apenas em mais um cartola.
Na quinta-feira passada, Montenegro publicou um artigo abaixo da crítica no "Jornal do Brasil".
A pretexto de criticar a resolução de Pelé que modifica a lei do passe, Montenegro escreve: "Não acho que Pelé seja o responsável pelo impasse. Pelo que conheço dele, mesmo para defender sua classe, ele jamais agiria pelo fim dos clubes. A culpa é das pessoas que o assessoraram, gente como Juca Kfouri, Manoel Tobino (sic) e Carlos Aidar. É um absurdo que Pelé tenha se cercado apenas de pessoas desse tipo e de outras que não têm nada a ver com o futebol".
Montenegro, de fato, não conhece Pelé, está mal informado e pensa ainda pior.
Em primeiro lugar por achar que Pelé assinaria alguma coisa irresponsavelmente.
Sem coragem de bater de frente com o ministro (apesar de tê-lo acusado, em outro descontrole, de agir de má fé na venda de Giovanni), Montenegro, que talvez preferisse se chamar Montebranco, revela todo seu preconceito, como se Pelé fosse marionete.
Porque, em seu raciocínio, Freud explica, está embutida a idéia de que Pelé não tem preparo para tal.
Em segundo lugar, embora fique envaidecido por tão boa companhia, nada tenho a ver com a resolução -sou pela extinção pura e simples do passe.
Finalmente, Montenegro pensa mal porque desrespeita todos os conselheiros do Indesp, gente como Hortência, Nélson Piquet, Carlos Arthur Nuzman, todos com muito mais serviços prestados ao esporte brasileiro do que ele.
Não satisfeito, viciado em puxa-saquismo, Montenegro escreve: "O que surpreende é que esse método de enfiar decisões goela abaixo não é do feitio do governo FHC".
Mal sabe Montenegro que o presidente da República chegou a propor a Pelé que o passe fosse extinto por medida provisória.
Montenegro deveria cuidar só de seu Ibope, cuja credibilidade anda cada vez mais baixa.

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