São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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ATRÁS DO EMPREGO PERDIDO

O fim da inflação foi apenas o começo, aliás festivo, mas em cuja sequência foram se descortinando desafios cada vez mais difíceis politicamente e dolorosos socialmente.
Assim talvez comecem, num futuro próximo, relatos sobre a primeira metade dos anos 90 na Argentina e no Brasil. Mais difícil é prever como irá prosseguir o relato.
Nos dois países a hiperinflação foi dominada com o congelamento da taxa de câmbio. Nos dois casos tornou-se urgente, depois da euforia inicial, reduzir custos de produção.
Uma forma de reduzir os custos de produção é mudar as relações trabalhistas. O governo argentino estuda uma reforma na legislação para implantar "salários variáveis". Empresas em dificuldades pagariam os salários básicos, sem adicionais como os relativos a produtividade, assiduidade, insalubridade e antiguidade.
Há anos discute-se, especialmente na Europa, o conceito de "flexibilização" dos contratos trabalhistas. A lógica em favor dessa estratégia é clara: quando o desemprego atinge níveis insuportáveis, é melhor abrir mão de direitos do que aceitar essa situação. É o caso da Argentina.
No Brasil a situação é diferente, mas a proposta de flexibilização também se coloca, ainda que aplicada de forma temporária.
No longo prazo, entretanto, as dúvidas são muitas. Desde os anos 20, por exemplo, os economistas debatem sobre a viabilidade de ativar a economia reduzindo salários.
Mais recentemente, as propostas de "downsizing", reengenharia e eliminação de "adicionais" têm sido criticadas porque implicam redução da motivação entre os trabalhadores. Cresce o interesse pela participação nos lucros e outros prêmios à produtividade e à participação.
Uma coisa é certa: da forma como estão, no Brasil e na Argentina, as relações trabalhistas não podem ficar, sob pena de atuarem como obstáculos ao crescimento econômico.

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