São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Política econômica é de 2ª classe, diz economista

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O atraso do ajuste fiscal, das reformas estruturais e da privatização está forçando o ministro Pedro Malan (Fazenda) a manter uma política econômica de "segunda classe" -juros altos e sobrevalorização cambial- para conter a inflação e preservar o balanço de pagamentos.
A opinião é da Goldman Sachs, instituição financeira dos Estados Unidos, expressa em estudo sobre o Brasil recém-divulgado em Nova York.
O texto conclui que o efeito de longo prazo dessa política inadequada será um mau desempenho da atividade produtiva e das exportações, tornando a economia mais vulnerável a choques.
Assinada pelo economista carioca Paulo Leme, 40, radicado há mais de dez anos nos EUA, o relatório diz que a combinação de folga fiscal, aperto monetário e câmbio sobrevalorizado tem três efeitos perversos:
1) Reduz substancialmente o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), o que não é desejável num país com alto nível de pobreza como o Brasil.
2) As exportações crescem a taxas modestas, fazendo o país desperdiçar uma importante fonte de crescimento e espaço num mercado global altamente competitivo.
3) Significa queda da atividade econômica e altas taxas de juros, o que reduz a arrecadação tributária, aumenta o déficit fiscal e a dívida pública.
Inconsistência
Falando à Folha, Leme, que fez doutorado na Universidade de Chicago e trabalhou no FMI (Fundo Monetário Internacional), disse que, embora tenha sido bem-sucedido no combate à inflação, o Real está entrando numa fase difícil -o timing inconsistente das reformas e a política colocam em dúvida o sucesso do plano a longo prazo.
Para escapar desse paradigma, avalia, o governo tem de produzir um significativo superávit fiscal e reduzir a dívida interna.
"Para tanto, o governo precisa de um ajuste fiscal mais profundo e mais rápido e tem de acelerar as privatizações",disse.
Segundo Leme, passadas as eleições, será vital concluir as reformas administrativa, tributária e previdenciária.
Privatização
Leme acha que, a curto prazo, o governo ainda tem margem de manobra, com a privatização.
O economista da Goldman Sachs vê uma perspectiva favorável para o avanço da privatização com Antonio Kandir no Ministério do Planejamento.
Segundo Leme, houve um "progresso tecnológico" com a substituição de José Serra por Kandir, porque o novo ministro já "tirou o freio de mão que havia no processo".
Para ele, a privatização é prioritária porque o ajuste fiscal não é suficiente pela natureza do desequilíbrio fiscal brasileiro.
Reeleição
Leme avalia que, em 1997, o governo ficará muito dividido entre a manobra política para assegurar a reeleição do presidente Fernando Henrique em 1998 e a necessidade de implementar um forte ajuste fiscal.
Por isso, vê na privatização uma saída a curto prazo para amenizar a questão fiscal.
"Sob um ágil programa de privatização, o governo poderia reduzir a dívida pública, permitindo uma queda saudável da taxa de juro real."
Leme acredita que, se esse esforço for apoiado por um profundo corte nos gastos públicos da União e dos Estados, haverá uma entrada maciça de investimentos estrangeiros.
"Essa política econômica de primeira classe permitirá ao governo escapar da armadilha de crescimento medíocre, imposto pela combate à inflação baixa sem o ajuste fiscal", concluiu.

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