São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Candidatos colocam os eleitores para dançar

Promoção de forró é atração na periferia de São Paulo

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O acesso livre a bailes gigantes na periferia, com muito forró, é um dos maiores atrativos nesta campanha eleitoral em São Paulo.
Dono de uma casa de diversão, a "Patativa", em Santo Amaro (zona sul), o alagoano José de Barros Lima, o Zé Lagoa (PDT) tenta chegar à Câmara Municipal.
As suas noitadas de fim-de-semana são capazes de reunir até 8.000 pessoas. Quem não tem dinheiro entra "de graça" na casa.
O candidato é do tipo que não nega um prato de comida a ninguém. Segundo seus vizinhos, esse tipo de gesto vem sendo feito, há muito tempo, independentemente da campanha eleitoral.
Para incrementar ainda mais o seu lado folclórico, Zé Lagoa adotou o uso de um cavalo como seu meio de transporte para pedir votos aos eleitores.
Jegue e cavalo
"Estou imitando o Fernando Henrique nas suas andanças pelo Nordeste", diz o alagoano. "Depois vou montar em um jegue, que é mais sertanejo ainda."
Ele faz a sua peregrinação eleitoral ao som de uma paródia da música "La Bamba", em uma versão "forrozal", como define a trilha.
Violência
Além do mercado de ofertas eleitorais e da animação do forró, a eleição paulistana tem apresentado também o seu lado violento.
Único na cidade de São Paulo a fazer uma campanha como candidato gay à Câmara Municipal, Elias Lilikã (PT), 30, deu queixa à polícia sobre ameaças à sua vida.
Na última segunda-feira, ele conta ter recebido um telefonema assustador. "Eu pertenço a um grupo ultraconservador e gostaria de avisar que vocês estão com os dias contados", dizia uma voz masculina, segundo Lilikã.
A presença assumida de gays na política sempre foi motivo de violência no país. O episódio mais grave ocorreu em Coqueiro Seco (AL), em 1993, onde o vereador Renildo José dos Santos teve o seu corpo esquartejado, queimado e a cabeça jogada dentro de um rio.
No Nordeste, no entanto, outro caso mostra uma boa convivência do sertão com um vereador homossexual.
Na cidade de Colônia (PI), Kátia Tapeti (PFL) se transformou no primeiro travesti eleito no país. Concorre agora à reeleição.
Estragos
Além dos arrombamentos em comitês, como o ocorrido com um escritório do candidato Celso Pitta (PPB), na semana passada, a campanha tem feito outros estragos.
J.S.M., 16, acusou funcionários do comitê do candidato a vereador Hirant Sanazar (PDT), na zona oeste de São Paulo, de espancá-la.
"Fui cobrar o que me deviam e ainda apanhei", disse à Folha na tarde de quinta-feira, enquanto exibia os sinais do espancamento. Ela prestou queixa à polícia.
A menor, que é mãe de um filho de oito meses, disse que tinha a promessa de receber R$ 200 por mês pelo seu trabalho de distribuição de propaganda e animação da campanha do candidato.
Sanazar informou que nenhum tipo de violência tem o seu apoio. Disse que o comitê, em caso de dívida, deve fazer o pagamento.
Segundo a assessoria do candidato, J.S.M. não estava com salário atrasado.

Texto Anterior: Candidato quer voto da várzea
Próximo Texto: Prefeitura desloca 2 veterinários para o PAS, e médicos pedem explicações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.