São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996 |
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Heroína cresce à margem da polícia
ANDRÉ LOZANO
O uso da droga -que chega a custar R$ 280,00 o grama em São Paulo, contra R$ 20 na Europa e EUA, mais perto dos países produtores- aparenta estar ainda restrito a pequenos grupos de alto poder aquisitivo. Vários fatores, no entanto, apontam para o crescimento da distribuição e do consumo no país. O surgimento de casos de dependentes que procuram tratamento em programas antidrogas públicos (gratuitos) é um deles. Segundo o diretor do Proad, programa de assistência a dependentes de drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Dartiu Xavier da Silveira, cálculos internacionais mostram que para cada dependente de droga que procura ajuda, existem outros cem. "Nós registramos este semestre a ponta do iceberg do consumo de heroína no país", disse o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Unifesp, sobre o caso da internação de I.S.J., 30, que se tornou viciado em heroína em São Paulo. Além dele, outros três dependentes procuraram os programas da Uniad tentando se livrar da droga com tratamentos. J. e outro paciente afirmaram ter adquirido o vício em São Paulo -o que mostra que a aquisição da droga não é mais exclusividade de quem viaja para o exterior. J. disse à Folha que, nos últimos seis meses, as viagens que fazia à fronteira do Brasil com Paraguai, Argentina e Colômbia para apanhar a droga a mando de traficantes no bairro da Liberdade -em troca de heroína para consumo próprio- passaram de semanais para "praticamente" diárias. Ele hoje está internado em uma fazenda no interior de São Paulo, onde faz tratamento para abandonar a droga. Produtor mais próximo Segundo o superintendente da Polícia Federal de Manaus, delegado Mauro Spósito, há cinco anos, plantações de papoula estão sendo "encravadas" na faixa oriental da cordilheira dos Andes, na Colômbia -as plantações de coca ocupam a faixa ocidental. Regiões até então imunes ao plantio de drogas -principalmente de folha de cocaína- passaram a cultivar a papoula, planta que origina o ópio, do qual é sintetizada a heroína. "Se isso estiver ocorrendo, já temos a heroína na América do Sul. Isso significa que o preço da droga pode cair e o consumo aumentar. Mas, no momento, não temos registrado apreensões", declarou o diretor da Divisão de Investigação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), delegado Marco Antonio Paula Santos. A última apreensão -5,6 gramas, suficientes para o consumo de cinco dias de um viciado- foi feita em 95 pela Polícia Federal. "Os dados preocupam porque mostram que a heroína, que é tida como uma droga de difícil acesso, na verdade está sendo consumida no país", disse Dartiu Silveira. LEIA MAIS sobre o consumo de heroína da pág. 2 e 3 Próximo Texto: Dependente diz que crack não fazia efeito Índice |
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