São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Publicitários declaram guerra à heroína

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Publicitários norte-americanos declararam este mês guerra contra a heroína -a droga que voltou à moda, graças a uma bem-sucedida ofensiva de marketing de gangues colombianas iniciadas no começo dos anos 90 nas ruas de Nova York e Los Angeles.
Num trabalho voluntário, 250 das mais importantes agências de publicidade do país produziram idéias para criar uma campanha e alertar especialmente os jovens sobre os perigos da heroína.
Com espaço cedido gratuitamente por jornais como "The New York Times" e "The Washington Post", além das redes de televisão e rádio, os publicitários fazem desfilar pelos anúncios jovens esquálidos e desesperados -um deles se prostitui para ganhar dinheiro de homossexuais.
"A heroína está ganhando as ruas, e precisávamos montar uma contra-ofensiva", afirma Dick Bonnete, presidente de uma associação de publicitários que faz campanha contra as drogas nos Estados Unidos, chamada "Partnership For a Drug-free America". "Os jovens simplesmente não estão informados", diz.
Municiados das novas pesquisas, eles dedicaram este ano a advertir sobre os efeitos da heroína.
Cresce o consumo entre jovens e adultos. O atendimento de pronto-socorro das vítimas da droga subiu 58% entre 92 e 95.
Sucessão
As pesquisas também dão munição para a sucessão presidencial, devido ao aumento de consumo entre jovens nos últimos quatro anos.
Bob Dole, candidato republicano, voltou a atacar o presidente Bill Clinton semana passada e acenou com os mais recentes dados sobre heroína.
Os publicitários envolvidos na campanha e Bob Dole escolheram como alvos a indústria de entretenimento, responsável, acusam, por glamourizar a heroína através de músicas e filmes.
Dois filmes -"Pulp Fiction" e "Trainspotting"- fizeram sucesso e provocaram intensos debates sobre os limites do direito de expressão. Nos dois, entretanto, os personagens viciados em heroína têm desfecho trágico.
O próprio governo admite: "A heroína é uma gigantesca ameaça", reconhece Barry McCaffrey, responsável pela política contra drogas do governo federal.
A volta da heroína é resultado da estratégia das máfias colombianas, que resolveram diversificar suas atividades, até então centradas na cocaína. Atualmente, 64% de toda a heroína apreendida vem da Colômbia.
Até então, a heroína vinha da Ásia. Mas os colombianos baixaram o preço e jogaram no mercado um produto com nível de pureza jamais visto no país -o Drug Enforcement Administration (DEA) encontrou amostras com 90% de pureza.
A DEA alertava desde 1994 sobre sua suspeita de que a droga iria se espalhar pelo continente e colocar em risco países como Brasil, por sua fronteira com a Colômbia ser pouco fiscalizada.

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