São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Preso diz ter criado 'elixir' contra Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante mais de um ano, dezenas de presos da Penitenciária do Estado tomaram um líquido escuro com gosto de querosene preparado por um detento com distúrbios mentais. O "louco" acreditava que seu "remédio" curava bronquites, furúnculos, úlceras, lepra e até a Aids.
O "laxante patológico", como é chamado, foi criado pelo preso Antonio Carlos Rosa, matrícula 28.827. Os relatos sobre os efeitos de sua poção foram enviados a médicos, deputados e até ao Ministério da Saúde.
"Descobri a solução por meio de um plano espiritual em 15 de agosto de 1994", escreveu ele no mês passado em documento enviado ao Grupo Pela Vidda de São Paulo.
"Venho lutando com as mais altas patentes do governo e até a presente data não consegui atenção de ninguém. Se o governo tivesse me ouvido, já teríamos salvo milhões de vidas, porque essa solução torna o vírus da Aids inofensivo."
Nas suas cartas, ele relaciona 110 detentos "voluntários" que teriam tomado seu "remédio" e encontrado "melhora com uma rapidez assustadora".
A missão de Carlos Rosa parece ter chegado ao fim. Um laudo psiquiátrico feito há três semanas revelou que o preso sofre de distúrbios mentais. Rosa, que acreditava ter encontrado a cura da Aids, está sendo encaminhado para o Hospital de Custódia e Tratamento de Franco da Rocha, o antigo manicômio judiciário. O psiquiatra Hélio Cirlinas concluiu que Rosa precisa de um tempo de observação.
O diretor da Penitenciária, Aniceto Fernandes Lopes, pediu a abertura de um inquérito policial. Sem formação médica nem farmacêutica, o preso pode ser acusado de exercício ilegal da profissão.
Lopes não permite que Rosa seja entrevistado "por questões de segurança". A direção do presídio teme que as dezenas de presos que tomaram o "remédio" se revoltem quando souberem que a droga não servia para nada. A penitenciária tem 2.200 presos.
O diretor do hospital da Penitenciária, Harley Nunes da Silva, encaminhou o produto para análise no Instituto Adolfo Lutz, mas o órgão alegou não ter condições técnicas para "avaliar o medicamento quanto à sua eficácia".
Nas suas cartas, o próprio Rosa pedia que alguém analisasse seu "remédio". "Os voluntários são mais de 110, inclusive aidéticos que se encontravam em fase terminal."
Segundo seus relatos, o produto fazia com que os pacientes "defecassem uma quantidade assustadora de microorganismos patológicos de várias espécies e que se vê a olho nu". "As dores, quaisquer que sejam, são eliminadas em 24 horas." Segundo ele, a solução é preparada com ervas e microorganismos do mar.

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