São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Ciência e religião podem ser conciliadas

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1986, pela Editora Vozes, Newton Freire-Maia, geneticista e professor da Universidade Federal do Paraná, publicou um livro fundamental -"Criação e Evolução - Deus, Acaso e a Necessidade", que concilia religião e ciência.
O volume consegue elucidar o que o autor chama de falso dilema "evolução versus criação", explicando que, para compreender a variedade dos seres vivos, não há outra teoria científica além da evolução a partir de uma origem comum.
Compulsando muitas fontes biológicas e religiosas, chega a seu objetivo. Além disso, a obra traz ótimo perfil científico e místico de Teilhard de Chardin e analisa outros problemas ligados à filosofia, à ciência e à religião, assim como a ideologia do acaso e da necessidade, reducionismo e emergentismo, o vitalismo de Bergson. Termina com breve análise da biologia da preocupação última de Dobzhansky.
O livro é escrito de maneira eloquente e correta, por vezes comovente, como no trecho em que o autor revela sua conversão de ateu "militante" a católico, fato que dele fez profundo teólogo ademais de biologista e filósofo que sempre foi.
Lamenta-se que obra tão rica de ensinamento e de referências bibliográficas não traga índice remissivo.
Quanto ao "acaso e necessidade" de Monod, Newton o repele filosoficamente, mas o aceita cientificamente.
No ano passado, Rosendo A. Yunes, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, lançou pela editora daquela universidade "A Organização da Matéria -Acaso ou Informação", que de certo modo se relaciona com o anterior porque também concilia religião e ciência, em caminhos diversos do de Freire-Maia.
O autor, também teísta, combate veementemente a teoria do acaso e da necessidade de Monod, assim como as idéias sobre esse tema de Prigogine e do contraditório Hawking. Aborda a seguir a teoria do caos e vai subindo na escala de suas cogitações até chegar à biossemiótica, ciência, segundo ele, em construção. E atinge o seu objetivo final, a presença de um Deus na criação do Universo.
Tudo isso em tópicos muito claros e didáticos, que prendem a atenção do leitor e são acompanhados de extensa bibliografia, mas sem índice remissivo, que seria a nosso ver indispensável. É um passeio pela ciência e sua filosofia, assim como pela epistemologia, que muito deve contribuir para desfazer a idéia tão difundida de que ser cientista é necessariamente ser ateu.

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