São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996 |
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Otan inicia expansão ao Leste em 1997
IGOR GIELOW
A afirmação foi feita à Folha pelo secretário-geral da entidade, o espanhol Javier Solana, e se refere à data na qual ele pretende que seja feito o convite oficial a novos membros para a aliança militar. Solana falou com a Folha, jornalistas europeus e analistas militares durante seminário no IIEE (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos) na última quinta-feira, em Londres. "Desde o fim da Guerra Fria, começamos um processo de reestruturação de toda nossa aliança. Precisamos tomar passos adiante." Por passos adiante, detalha Solana, deve-se entender: aumento no número de membros da aliança, nova relação com a Rússia e novo papel dos países europeus na Otan. Membros Hoje a Otan tem 16 membros, 14 deles europeus mais EUA e Canadá. A aliança foi fundada em 1949 para fazer frente ao monólito soviético ao Leste, que englobava toda a Europa Central -e que formou entidade semelhante, o Pacto de Varsóvia, no ano de 1955. Com o fim da União Soviética, em 1991, e os novos desafios à estabilidade européia, como os nacionalismos na ex-Iugoslávia, foi necessária à Otan uma nova cara. Para John Chipman, diretor do IIEE, há um consenso entre analistas militares de que a reestruturação da aliança está lenta. Solana rebate afirmando que o processo é delicado. É fato: ontem e anteontem ele passou horas reunido com o chanceler russo, Ievgueni Primakov, para falar sobre uma Otan maior. "O crescimento é inevitável. A segurança européia não pode mais se restringir ao número atual de parceiros e as conversas com os interessados estão no fim. Acho que, se tudo der certo, faremos uma reunião de cúpula para convidar vários parceiros até o meio de 1997", disse Solana. Os "parceiros" a quem o secretário-geral se refere sairão da Parceria para a Paz, acordo militar entre 27 países da Otan, Leste Europeu e Ásia lançado em 1994. A Polônia é favorita. Para críticos, a Parceria para a Paz fracassou. Novamente, Solana rebate usando como argumento a presença de russos na Ifor (Força de Implementação, o conjunto de tropas estrangeiras que garantem a paz na Bósnia). "Nunca tivemos algo tão bem-sucedido na Europa, em termos militares", afirmou. Rússia Aí entra um dos principais fatores da necessidade de expansão, ainda que as palavras oficiais sejam de cooperação e paz: a Rússia. O "inimigo vermelho" desapareceu, mas a turbulenta eleição deste ano, a saúde precária do presidente Boris Ieltsin e a luta pelo poder no Kremlin (sede do governo russo) são fatores de instabilidade permanentes. Mesmo tendo sido humilhado na república separatista da Tchetchênia, aumentando a impressão de que é um "tigre de papel", o poderio militar russo ainda pode ser reorganizado de forma profissional -como quer o homem-forte do país Alexander Lebed. E, acima de tudo, há milhares de ogivas nucleares na Rússia. Assim, é necessário ampliar o "tapete" da Otan para o Leste, ocupando espaços estratégicos. Oficialmente, ficam as palavras de Solana: "Nós queremos ter uma relação única com a Rússia, de forma a cooperar para a segurança do continente." Por fim, é necessário reforçar o chamado "pilar europeu" da aliança militar ocidental liderada pelos EUA. Resumindo, o governo norte-americano não quer continuar pagando a conta mais alta na Otan, em especial porque os problemas a serem resolvidos são cada vez mais "europeus". Próximo Texto: Polônia deve ser membro Índice |
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