São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Politicamente correto atinge até as bíblias

Versões em inglês são 450

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Se dirigir a Deus como "Pai" parece razoável e amplamente aceito em praticamente todas as religiões ocidentais. Mas, nos anos 90, a era do "politicamente correto", esse senso comum ofende algum segmento da sociedade que enxerga nessa denominação uma amostra de sexismo.
Para agradar aos descontentes, o mercado de bíblias, o maior best seller de todos os tempos, criou uma versão publicada recentemente nos EUA que só se refere a Deus como "Pai-Mãe" ("Father-Mother"). Mais: a "mão direita" descrita no livro virou "mão poderosa", para não ofender canhotos de qualquer credo.
As bíblias "politicamente corretas" -como "O Novo Testamento e Salmos: Uma Versão Abrangente", que contém os exemplos acima- ou em versões simplificadas e dirigidas a um público bastante específico viraram tendência no mercado editorial e junto às igrejas, numa tentativa cada vez mais agressiva de arrebanhar novos fiéis.
450 versões
Atualmente há 450 versões em inglês da Bíblia, incluindo partes do Novo e Velho Testamento e livros de estudo.
A editora Zondaran, por exemplo, publica a "Bíblia Devocionista para Mulheres", a "Bíblia de Estudo para Adolescentes", a "Bíblia para Casais", além de uma "Bíblia Aplicada à Vida".
O mercado também fornece aos norte-americanos versões para a Internet (rede mundial de computadores), versões em vídeo e guias de ajuda para ler a Bíblia.
Segundo levantamento do "Publisher's Weekly", publicação das editoras, são gastos cerca de US$ 400 milhões por ano no país apenas em bíblias.
A "New Living Translation" ("Nova Tradução Viva"), por exemplo, já vendeu 40 milhões de cópias no país desde seu lançamento, no início do ano.
Segundo o crítico de livros religiosos da "Publisher's Weekly", Henry Carrigan, a intenção dessas atualizações é tornar a bíblia mais acessível e facilmente compreensível para o leitor comum, que teria dificuldades de entender a escrita arcaica do século 17 usada na edição Rei Jaime, uma das mais tradicionais nos Estados Unidos.
"Essas traduções usam o inglês que um estudante de primeiro grau pode entender", afirmou. As diretrizes dessas editoras incluem a abolição de qualquer uso da poesia, considerada muito elaborada e sujeita a compreensões erradas por parte dos leitores.
É importante ressaltar ainda que muitas das novas versões são dirigidas a protestantes e têm sua base de comparação na versão Rei Jaime, escrita em 1611, quando passou a ser considerada oficial por esses religiosos.
A tradução em inglês mais adotada pelos católicos romanos data de 1609, feita por Douay Rheims, com revisões durante todo o século 18.

Texto Anterior: Para a CIA, país é o maior fornecedor da droga
Próximo Texto: Veja alguns exemplos das novas versões
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.