São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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A ALTA DOS JUROS

Não se tem dado a devida atenção ao fato de que, desde junho último, as taxas de juros reais dos títulos públicos voltaram a subir no Brasil.
Essa não foi, possivelmente, uma decisão deliberada do governo. Os pronunciamentos oficiais têm defendido a queda das taxas e, em termos nominais, elas foram efetivamente reduzidas. A alta real deveu-se, antes, à lentidão do Banco Central na pretendida "queda gradual" dos juros. Eles terminaram por cair mais vagarosamente que a inflação.
O impacto concreto desse fato é que empresas cujas receitas pararam de subir e trabalhadores cujos salários encontram-se estáveis sentem mais duramente o alto custo do crédito, tanto para a produção como para o consumo. Os elevados juros pagos pelos títulos federais servem de base à cobrança de taxas muito mais altas do tomador final de empréstimos.
Como se pode observar no gráfico, depois de oscilar no início deste ano, os juros reais (descontada a inflação) dos títulos públicos federais caíram a 0,45% em maio. Mas voltaram a subir, em termos reais, até atingir 1,69% no mês passado. Essas taxas podem até parecer pequenas, mas tal impressão deve-se ao hábito nacional de analisar números mensais. A taxa definida pelo Banco Central em agosto último, por exemplo, corresponde a juros anuais de 22,2% acima da inflação.
Nos Estados Unidos, para tomar um parâmetro de comparação, os títulos federais de 30 anos pagam, atualmente, juros de cerca de 7% anuais, contra uma inflação de 2,5% ao longo de 12 meses. Em termos reais, portanto, as taxas financeiras norte-americanas não passam de 4,5% ao ano, um quinto da última taxa brasileira anualizada.
As recentes notícias de que o Ministério da Fazenda estuda reduzir mais os juros, e a reafirmação desse cenário de queda das taxas financeiras traçado pela equipe econômica, como esta Folha publica hoje, podem ser consideradas como respostas às altas taxas reais. A queda mais acentuada na variação dos índices de preços e o fato de que não estejam à vista novas pressões inflacionárias permitem aliviar o aperto creditício.
A grande dúvida fica por conta do comportamento do setor externo. Taxas de juros mais baixas tornam o país menos atraente para o capital especulativo. E a possível -e extremamente desejável- melhora na atividade econômica tende a trazer consigo um aumento das importações.
De qualquer modo, está claro que existe espaço para reduzir as taxas de juros -se não definitivamente, ao menos até que, na balança comercial, soe eventualmente um novo alarme.

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