São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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EMERGENTES DE NOVO

Os "mercados emergentes" voltaram a ter destaque nas últimas semanas. O fato principal é a recuperação da economia mexicana. Os mais céticos viam na crise de dezembro de 1994 o começo de uma catástrofe de dimensões globais e incontrolável.
Os mais recentes informes de instituições como a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da ONU, do Institute of International Finance (que reúne instituições privadas) e da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) convergem num ponto: ceticismo ou preocupação quanto ao desempenho das economias desenvolvidas e otimismo crescente com os países em desenvolvimento, tanto na Ásia quanto na América Latina, sobretudo a partir do ano que vem.
Não é apenas a recuperação mexicana que volta a animar os observadores internacionais. A estabilização brasileira é um dado importante, ainda que sejam frequentes as críticas quanto à lentidão ou insuficiência do ajuste fiscal. O avanço de projetos de integração regional, como o Mercosul, também fortalece o ideal de liberalização progressiva do comércio internacional.
De modo geral, pode-se dizer que está começando uma segunda fase de entusiasmo com os chamados "mercados emergentes". O interesse tem uma razão fundamental: o sistema financeiro mundial continua imerso numa espetacular liquidez.
Com o crescimento medíocre na União Européia e no Japão, é natural e até inevitável que haja uma demanda significativa dos investidores internacionais por oportunidades em que o retorno seja maior, ainda que os riscos também o sejam.
Entretanto, pode-se também afirmar que esse interesse e entusiasmo que provavelmente darão o tom da segunda metade dos anos 90 difere bastante da euforia registrada na primeira metade da década.
Em primeiro lugar, hoje é mais intensa a busca de informação, a diferenciação entre os vários países emergentes, o acompanhamento mais detalhado da evolução política das economias em desenvolvimento. Na semana passada o Fundo Monetário Internacional lançou um serviço na Internet, com informações sobre as principais economias em desenvolvimento, cuja criação é um dos frutos da lição amarga aprendida com a crise mexicana.
Mais importante, talvez, é o fato de que afinal tornou-se impossível generalizar sobre os "emergentes". Se antes, por exemplo, os mercados asiáticos pareciam imunes ao risco ou destinados ao sucesso, hoje a percepção é muito menos ingênua. Tailândia, Indonésia, Coréia do Sul, Hong Kong, os famosos "tigres" e mesmo a China têm sido pródigos em problemas de ordem social, econômica e política.
Há, portanto, emergentes e emergentes, na Ásia, na América Latina ou no Leste Europeu. Resta esperar que tanto os países quanto os investidores sejam capazes de aprender com os próprios erros.

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