São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Globalização para todos

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Os jornais da semana noticiaram um extraordinário feito: a inflação brasileira está tão baixa quanto a ocorrida em 1958: 0,11%.
Isso é motivo para festejar, sem dúvida. Não porque o problema esteja totalmente debelado, mas porque se nota que o Plano Real está conseguindo manter a saúde da nossa moeda.
Muitos preços estão baixando; os lucros reduzindo; e os salários aumentando (para os que continuam empregados).
O que não se entende é por que os juros e os serviços públicos são os únicos que não caem. O Banco Central anunciou que reduziu a taxa de juros de 2% para 1,9%. Isso é insignificante. Está muito aquém da queda da inflação.
Na verdade, os juros reais estão subindo. Com a inflação prevista de 8% para 1997, juros de 1,9% ao mês representam 17% reais ao ano -mais de 200% do que se paga no exterior. Isso é um escândalo!
Além do mais, poucos são os que conseguem dinheiro a 1,9% ao mês. O empresário, para descontar uma duplicata, ou o consumidor, para comprar a prazo, pagam 4%, o que dá 60% ao ano.
Não dá para entender porque tudo baixa e os juros sobem. Do mesmo modo, não dá para aceitar que a globalização atinja todos os setores, menos o financeiro.
O que justifica manter a atual reserva de mercado para os bancos que hoje operam no Brasil? Não seria o caso de globalizar também o mercado financeiro? Por que não permitir a entrada de mais bancos estrangeiros? Por que não democratizar o uso do crédito a taxas internacionais para produtores e consumidores?
Muitos argumentam que os juros a serem cobrados pelos bancos estrangeiros, dentro do Brasil, seriam iguais aos atuais, pois, no fundo, eles são determinados pela "cunha fiscal" que impõe depósitos compulsórios elevados, IOF e vários outros impostos que alavancam os juros para o espaço -o que, aliás, vale para todos os setores.
Ainda assim, pergunto: por que não deixar os bancos estrangeiros competirem com os bancos que hoje detêm o monopólio do mercado nacional? Por que a concorrência vale para os produtores e não vale para os financiadores?
Globalização é a palavra da moda. Todos querem o melhor produto pelo menor preço, venha de onde vier. Isso deveria valer também para o dinheiro. É estranho que o mesmo governo que é tão fanático pela concorrência não se anime a propor uma mudança constitucional que permita a competição entre os bancos.
O Banco Central tem estimulado a privatização dos bancos estaduais problemáticos. Mas, no Brasil, não tem havido dinheiro ou interesse nessa privatização. Por que não abri-la para os bancos estrangeiros como condição para entrar no Brasil?
A globalização deve ser para todos, e não apenas para alguns.

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