São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Beleza a qualquer custo

ALESSANDRA BLANCO

Pesquisa Datafolha feita em São Paulo revela que 50% das mulheres não estão satisfeitas com o seu peso e que 55% gostariam de fazem uma cirurgia plástica. No entanto, 61% não praticam exercício físico, preferem cuidar da beleza comprando cosméticos: 44% gastam mais de 20% do salário com esse tipo de produto
Beleza em primeiro lugar. A saúde vem depois. Uma barriga perfeita, pernas enrijecidas e os seios no lugar. É com isso que sonham -e se preocupam- a maioria das paulistanas entrevistadas por uma pesquisa Datafolha sobre beleza e estética. Desde que, é claro, atingir tais formas do desejo não exija muito esforço, ou pelo menos muito esforço físico.
A prova de que a beleza está em primeiro lugar na lista de prioridades femininas é que, de todas as entrevistadas, apenas 2% disseram não se importar e não comprar produtos de beleza.
As demais compram e muito: 44% das mulheres gastam mais de 20% do seu salário com esse tipo de produto. E esse número não fica apenas nas camadas sociais mais elevadas, ao contrário, entre mulheres que ganham até dez salários mínimos, 54% dizem que gastam mais de 20% do salário com cosméticos.
"Renovo meu estoque de cremes a cada três meses e gasto de R$ 1.200 a R$ 1.300. Acho importante investir na beleza. Para mim, é um prazer gastar tanto dinheiro com cosméticos e tratamentos estéticos", diz a administradora Maria de Fátima Menezes da Silva Sevieri, 38, uma das "rainhas do creme" entrevistadas pela Revista.
Por que tudo isso? "Medo de envelhecer", conta Maria de Fátima.
No combate a essa constante ameaça apenas uma coisa é capaz de bater os cremes na lista de desejos femininos: a cirurgia plástica. Segundo a pesquisa, 55% das mulheres gostariam de fazer algum tipo de plástica.
Primeiro na barriga (16%), parte do corpo, aliás, que as mulheres menos gostam (27%), depois nos seios (12%) e no rosto (9%), parte com que mais se preocupam (29%).
"Tenho a maior vontade de fazer cirurgia plástica. A hora que cair tudo, eu subo. Não tenho o menor pudor", diz a atriz Claudia Raia, que já fez um seguro para as suas pernas de US$ 5 milhões.
A eterna reclamação masculina de que as mulheres nunca estão satisfeitas com a própria aparência também parece ser verdade. Segundo o Datafolha, 64% gostariam de mudar alguma coisa no cabelo, 50% não estão satisfeitas com o seu peso atual e 20% gostariam de perder mais de dez quilos.
"As pessoas querem muito emagrecer. Existe algo mais feio do que uma papada? Se perguntarem para a mulher se ela prefere ter uma cicatriz na testa ou uma papada, ela escolhe a cicatriz. Até porque esconde com a franja", diz a psicanalista Ana Verônica Mautner.
Emagrecer sim. Fazer ginástica não. É o que revela a pesquisa. As mulheres se preocupam muito com a beleza, mas nem tanto assim com a saúde. Não praticam exercícios físicos (61%), e até mesmo o uso de cremes é incorreto.
"Realmente indispensável é o uso de um renovador celular à noite (ácido retinóico ou glicólico), indicado pelo médico, e um hidratante com filtro solar pela manhã", diz a dermatologista Maria Tereza Lascane. Mas, apesar de maníacas por cremes, 44% das mulheres só usam o "indispensável" filtro solar quando vão à praia e outras 35% não usam ou usam raramente.
Quanto ao exercício físico, não há como escapar, é realmente fundamental para um corpo saudável, o que não significa, no entanto, que a mulher estará eternamente fadada a três horas diárias de exercício forçado.
"Engana-se quem faz abdominal para perder a barriga. A função desse exercício é fortalecer os músculos da região abdominal. Para ter uma barriga perfeita é preciso um trabalho aeróbico de 30 minutos, reeducação alimentar e, então, exercícios abdominais", diz a preparadora física Valéria Aprobato.
Assim, uma caminhada de 30 minutos, três vezes por semana, é suficiente para começar a resolver o problema do emagrecimento e condicionamento.
Claro, milagres não existem. "A menina de coxa grossa que faz atividade física todo dia para ter uma perna igual à da Claudia Schiffer, deve desistir. Só morrendo e nascendo de novo", diz a nutricionista Alessandra Caviglia.
Mas se até a Madonna tinha barriga flácida, segundo o seu preparador físico, Robert Parr, tudo pode ficar melhor.

Essa pesquisa Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada por idade da população adulta feminina da cidade de São Paulo. A pesquisa foi realizada em 23 de agosto de 1996, com 416 mulheres, distribuídas geograficamente pela cidade. O critério cor é resultado da observação dos pesquisadores. A margem de erro é de 5,0 pontos percentuais para mais ou menos.

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