São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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Maurice André interpreta barroco

LUÍS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tocar trompete é uma tradição na família de Maurice André. Seu pai era mineiro na cidade francesa de Alés, onde complementava o orçamento da família tocando trompete em bailes de camponeses.
Ensinou Maurice a tocar quando ele tinha 14 anos, num pequeno trompete usado. Logo ele estava a seu lado, animando os bailes.
Introduziu-o, também, na profissão de mineiro, na qual trabalhou por quatro anos. Mas seu promissor talento musical logo tornou-se evidente e ele conseguiu trocar as minas de carvão pelo Conservatório de Paris, onde se formou e sucedeu seu professor.
Hoje Maurice André é o mais famoso intérprete de trompete em todo o mundo. Compositores como Boris Blecher e André Jolivet escreveram obras para ele, que também é autor de transições de árias operísticas para o seu instrumento.
Seguindo a tradição familiar, seu filho Nicolas também é trompetista e sua filha Béatrice toca oboé. Ambos estarão se apresentando, de hoje a quinta-feira, junto ao pai e à orquestra Ferenc Liszt, com três programas que destacam a música do barroco alemão e italiano.
Leia a seguir a entrevista que Maurice André concedeu, de Foz do Iguaçu, à Folha:
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Folha - Como era, em sua época, para um filho de uma família de mineiros fazer uma carreira musical?
André - Para mim foi muito difícil deixar o ambiente caloroso em que tinha vivido até então. Em minha casa não tínhamos cadeiras e, no inverno, nos sentávamos bem perto um do outro, para nos mantermos aquecidos. Meu pai dizia: "O dia em que comprarmos cadeiras, será o começo do egoísmo".
Folha - E como foram seus primeiros anos em Paris?
André - Como meus pais não tinham dinheiro para me manter na capital, alistaram-me no exército, que me permitia estudar em tempo parcial. Meus estudos progrediram muito depressa. Aos 18 anos, eu já era professor de trompete.
Folha - Como é o trabalho junto à orquestra?
André - Nós nos conhecemos há muito tempo. Basta ensaiar brevemente antes dos concertos, pois já temos uma história em comum de mais de 20 anos, desde os tempos do comunismo na Hungria. É uma orquestra da mais alta qualidade.
Folha - Qual é a importância do trompete no repertório erudito?
André - Nas composições barrocas alemãs e italianas, o trompete, como solista, é muito frequente, mas os compositores do classicismo praticamente não escreveram para este instrumento. Leopoldo Mozart, pai de Wolfgang, tem um concerto para trompete magnífico, mas seu filho achava que se tratava de um instrumento selvagem, bárbaro. De fato, o trompete pode soar muito áspero, mas também pode ter uma suavidade enorme.

Concerto: Orquestra de Câmara Ferenc Liszt
Com: Maurice André, Nicolas André (trompete) e Béatrice André (oboé)
Quando: hoje (24), amanhã e quinta, às 21h
Onde: teatro de Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tels. 256-0223)
Quanto: de R$ 10 a R$ 100

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