São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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Amati busca praticidade do instantâneo

FERNANDO OLIVA
DA REDAÇÃO

Quando o pesquisador norte-americano Edwin Land criou a Polaroid Land Camera provavelmente não imaginou que, cerca de 50 anos depois, um brasileiro pudesse expor 40 destas fotos numa galeria, elevando suas imagens instantâneas à categoria de arte. Pois é o que fez o fotógrafo Vitor Amati.
Nesta série, o que realmente fascina o fotógrafo é o resultado imediato, a própria instantaneidade da Polaroid. "É a possibilidade de visualizar na hora o que pensava em fazer", explica Amati. Tempo de espera entre apertar o botão e ver a imagem pronta: de um a dois minutos. "Aquele instante, que era presente, já virou passado."
Seu trabalho registra cenas da natureza, como plantas e flores, retratos de seu filho Gabriel Amati desde os três anos de idade e cenas urbanas- avenidas, carros e prédios.
O tratamento incomum de imagens de seu cotidiano pessoal se traduz numa mistura de abstrato com real, marcado pelas cores e brilho típicos das Polaroids.
Apesar das limitações -o modelo de Amati não permite troca de lentes nem de filmes- ele conseguiu resultados curiosos usando a criatividade e fazendo pequenas modificações na máquina.
Na série que será inaugurada hoje, Amati alcança diferentes contrastes de cor e, usando jogo de espelhos, usa a técnica da dupla exposição para sobrepor até três imagens na mesma foto.
Uma adaptação no mecanismo possibilita fotografar mais de uma vez antes de iniciar a revelação.
Outra limitação da máquina que Amati consegue reverter em linguagem fotográfica é o fato de as Polaroids, por não precisarem de negativo, não permitirem alterações durante a revelação e ampliação das fotos. "Posso me concentrar totalmente no ato de fotografar e não mais no processo que forma a fotografia", afirma. A maior parte das fotos expostas tem dez centímetros de largura por dez de altura.
Durante a exposição será apresentado um vídeo de animação digital. Amati usou um computador para reproduzir parte das fotografias e montar o filme.
Leucemia
Amati, tradicionalmente ligado à moda, chegou às Polaroids por um motivo trágico. Por conta de uma leucemia contraída por seu filho de três anos de idade em 1992, o fotógrafo foi obrigado a passar a maior parte do tempo entre quatro paredes, em casa ou algum quarto de hospital.
Sem condições de voltar à rotina de comprar o filme, produzir as fotos, levar para revelar, só então buscar as ampliações e, pior, com vontade de continuar fotografando, o problema de Amati pedia solução prática e rápida.
Comprou uma Polaroid e passou a registrar tudo o que estivesse ao alcance de sua lente, dentro ou fora do quarto. Nesta época registrou, entre outros assuntos, a doença e convalescença do filho Gabriel Amati.
Ele resolveu excluir da exposição esta primeira fase por considerá-la muito deprimente. As fotos de Gabriel que integram a série foram feitas quando a criança já estava curada da leucemia.

Exposição: InstantaNEOS, de Vitor Amati
Onde: Li Photogallery (r. da Mata, 80, Itaim Bibi, tel. 011/883-0300)
Quando: de hoje a 27/10 (seg. a sex., das 9h às 17h e domingos, das 11h30 às 17h)

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