São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996 |
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Arnaldo faz barulho em "O Silêncio"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Mais pop que "Nome" e menos pesado que "Ninguém", apela ainda ao experimentalismo voraz (como no primeiro) e a entrosada banda rock formada por Edgard Scandurra (Ira!), Pedro Ito, Paulo Tatit (ex-Rumo) e sua mulher Zaba Moreau (como no segundo). Para ambos os lados, Arnaldo arrefece: o peso rocker não raia o insuportável como em "Ninguém"; e o furor aliterativo de suas letras pretensiosas de resumir o universo já se traduz em cansaço e náusea. Senão, como encarar os trocadilhos infames em faixas como "O Que Swingnifica Isso?" ou "Macha Fêmeo", que, como se pode deduzir, brinca de trocar o sexo das coisas (caralha, nádego...)? É assim que o disco se move, exacerbando concretismos longos e vazios ("Poder" irrita em 6min26 de variações sobre "pode ser isso, pode ser aquilo", em que "aquilo" sempre termina em "ão"). Tudo bem, se seu poder melódico evoluísse. Acontece que ele se mostra impotente frente à melodia, em canções que nunca engrenam refrões de mínima empatia. Exceções encontram-se em participações de Carlinhos Brown, quase palatáveis. Os dois neutralizam defeitos respectivos -Brown corrige a aversão melódica de Antunes, que disfarça a atroz desarticulação discursiva do baiano. O mesmo não ocorre com o expoente dos 90 Chico Science (no dueto "Inclassificáveis"), que se arrisca a ficar classificável em meio a gritaria histérica e aliterações. O oposto ele vai fazer em sua própria "Desce 1", samba simples e elegante, à Paulinho da Viola. Mas, no todo, Arnaldo ainda parece bem mais interessado no concretismo cabeça oca. Disco: O Silêncio, de Arnaldo Antunes Preço: R$ 18, em média Texto Anterior: Ray Charles toca para privilegiados Próximo Texto: SBT e Manchete compram novos desenhos animados japoneses Índice |
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